Dia Internacional da Mulher

 



Bom dia, boa tarde, boa noite, minhas mulheres guerreiras, batalhadoras, sofridas e maravilhosas. Bem, dificilmente eu ia deixar esse dia passar sem dizer alguma coisa. Mas, antes de mais nada, eu quero dizer que odeio datas comerciais. O Dia da Mulher ou Março, como Mês da Mulher, são desculpas para vender, fazer promoções etc. Isso já tira meu tesão de comemorar um negócio que é importante.


O Dia Internacional da Mulher está aí para lembrar a homens e mulheres o quanto ainda estamos distantes de termos uma igualdade no tratamento, no recebimento de salários e na valorização dos nossos esforços. Aliás, para lembrar que tudo é um esforço, enquanto para os homens muito é dado. 


Homens não acham nada de mais o fato que, por exemplo, não podemos sair 5 horas da manhã para caminhar, por ainda estar escuro, enquanto eles andam de madrugada tranquilamente. Tem noção que o nosso direito de ir e vir é cerceado?


Veja a nossa representatividade política. Quase não há mulheres na Câmara, no Senado, por isso temos que proteger as poucas que lá estão para defenderem os nossos direitos. Mas então por que vocês não elegem mais mulheres? Uma pergunta simples, com uma resposta não tão simples assim. Simplesmente não estamos acostumadas a ter a consciência de que precisamos votar em mulheres para sermos protegidas de alguma forma. Nossa mentalidade, nossa educação, nossa realidade ainda são muito patriarcais também. Tem poucos anos que percebi que tinha que eleger mulheres e não votar em homens. Imagina para quem não tem amigas maravilhosas e feministas como eu?


Nossa representatividade em altos postos de trabalho também é pífia. Porque não somos capazes? Não, somos muito capazes, mas não fomos criadas para estarmos em altos cargos de multinacionais, fomos criadas para sermos professorinhas. 


Sim, na minha geração eu ainda brincava de cozinha, passar roupa, cuidar de criança e dar aula para os meus bonecos. Mas eu gostava mesmo era de video game. Aos cinco anos fizeram uma festa da She-Ra pra mim, eu estava parecendo um bolo confeitado no meu vestidinho azul com laço na cabeça, mas eu gostava mesmo era do He-man. 


Quando eu queria brincar de mulher empresária que carimbava e assinava documentos, eu tinha que esperar sobrarem folhas do trabalho do meu pai e da minha mãe, para escrever no lado não usado. Eu estava sempre muito ocupada. Mas minhas fantasias era da Xuxa, gente, eu nem acordava para ver Xuxa. Porque não me deram um terninho? Uma maleta? Eu ficava encantada com a maleta do meu tio, tão preta e tão misteriosa. Tão adulta!


Hoje me parece que as mães, as que levam a maternidade a sério (minhas amigas levam a maternidade a sério, tentando traumatizar o mínimo suas crianças), deixam as coisas mais abertas para os filhos, as possibilidades mais à vista, há mais diálogo, há mais responsabilidade. Não sei como isso vai acontecer daqui a uns vinte anos, mas acho que é uma boa evolução, apesar do bombardeio de informações a que estamos submetidos.


O que eu quero dizer é que o Dia da Mulher é um dia de reflexão, não um dia de dar parabéns, nós não fizemos nada para receber parabéns, além de termos conquistado alguns direitos trabalhistas e a possibilidade de votar. Eu não quero parabéns por isso. 


Quero que parem de achar que uma mulher com uma minissaia e uma decote é um pedaço de carne, quero que parem de pensar que somos frágeis e que, por esse motivo, somos presas fáceis. Quero poder andar por aí de madrugada sem correr o risco de ser estuprada, quero ir pra noite sem correr o risco de colocarem algo na minha bebida. Quero não ser julgada por falar palavrão, tomar cerveja e sentar de perna aberta. Por não querer ter filhos e ter uma vida sexual movimentada.


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