As contradições de envelhecer
Bom dia, boa tarde, boa noite, minhas deusas gregas. Envelhecer é um troço esquisito. É ruim, mas é bom. Antigamente uma senhora de 50 anos era uma vovózinha de cabelos brancos que fazia bolo e que era anfitriã dos almoços de domingo.
Hoje a mente não acompanha essa evolução, eu com 40 ainda olho um top e uma minissaia e acho que são roupas que combinam comigo, como se minha idade não tivesse mudado, meu corpo não tivesse engordado e, de qualquer forma, não teria nem onde ir com uma roupa dessas, mas é engraçado que minha mente se acende sempre que vejo algo parecido. Outro exemplo: eu vejo biquinis pequenos e acho lindo, mas nem tenho mais corpo pra isso. E hj tenho que usar saída de praia, eu nunca olho saída de praia.
Outro dia vi uma entrevista da atriz Samara Felippo falando exatamente que as pessoas têm dificuldade de vê-la envelhecendo, com os cabelos brancos - que ela assumiu. E gente, estranho seria ela não envelhecer, Malhação tem mais de 20 anos. Por outro lado, ela, com o maior corpaço, não pode se vestir do jeito que quer porque envelheceu, tem filhos e os filhos vão se envergonhar das minissaias dela.
Ora, a gente se veste com as roupas com as quais se sente bem. A gente pode fazer isso. Porque as mulheres de 40, hoje, estão dando um belo caldo, principalmente as que malham. Não somos mais vovozinhas, estamos gostosas e com a cabeça jovem ainda. Eu tenho sérias dificuldades de entender que envelheci. Até porque, por fora, embora eu veja as imperfeições do meu corpo, elas não são devidas necessariamente ao envelhecimento, mas às circunstâncias. Eu sequer pareço ter a idade que tenho.
Ontem comemorei 10 anos como doutora. Ou seja, quase 20 anos de graduada. E parece ontem que estava no Ensino Médio. Dá um nó na cabeça, pois o corpo mostra que estamos envelhecendo, mas não estamos envelhecendo como antes, estamos envelhecendo permanecendo jovens. Mas mudamos, a nossa mentalidade muda, nossa maneira de pensar muda, nossas relações com os outros mudam. Tudo muda, mas nada muda.
Eu acho que essa minha mania de atrair homens mais jovens se deve exatamente a essa coisa do ainda continuar com mente e corpo joviais, mas ao mesmo tempo eu vejo uma diferença enorme na minha maneira de pensar quando eu tinha 30 para agora. Agora eu não reclamo mais muito da vida, não trabalho que nem uma louca, sei que a vida passa rápido demais para não aproveitá-la ao máximo, passa rápido demais para ficar dando ouvido ao que os outros dizem.
Outro fenômeno interessante é que as pessoas à nossa volta também estão envelhecendo, mas elas querem que nós permaneçamos intactos. Pense na sua família. A minha diz que eu engordei. Dizem as pessoas que engordaram também, ou que pararam de se depilar, ou que sublimaram o sexo. Motivos para julgar o envelhecimento do outro não faltam, mas por que cargas d’água deveríamos trocar ofensas e julgamentos se estamos todos indo na mesma direção. Tem pessoas que adoecem. Tem outras que engordam. Tem pessoas que se tornam péssimos velhos e outras que mantém uma jovialidade na cabeça.
Algumas ficam ridículas porque não querem sair da juventude e outras que se entregam ao papel de vó, vózinha corcunda que vive de fazer nescau para os netos. Tem outras que tem coluna pra correr atrás de criança, outras não. Eu não tenho coluna nem para levantar de manhã, por tenho uma hérnia na lombar, mas eu carrego essa hérnia há mais de 10 anos. Aos 30, eu me considerava novinha, ou seja, não é uma doença da velhice.
Às vezes tenho vergonha de as pessoas do passado me verem mais velha, mas também tenho tanto orgulho de quem me tornei hoje que me dá vontade de encher a boca para falar que eu tenho 40 anos agora. E receber um sonoro “Nossa, nem parece, te dava uns 35”. Eu me sinto com 25, mas com a maturidade de hoje, pois esse é o toma lá dá cá: a gente amadurece e começa a ligar os foda-se da vida, começa a tomar decisões com maior facilidade, gastando menos energia, pois a experiência é fundamental na tomada de decisão. Começa a ter do seu lado só as pessoas que realmente importam e que agregam, tem uma facilidade enorme de quebrar o pragmatismo para ter paz de espírito.
Hoje me disseram que, se tem a mulher de 40+ que liga o foda-se, a mulher de 40++ liga mais ainda. Gente imagina que sonho, ser mais segura de quem é, ter mais certeza das coisas, ser mais ousada ao experimentar, se divertir sem se preocupar com o que os outros estão pensando. Afinal ninguém paga suas contas. Quanto mais independente é a mulher de 40+ menos ela se preocupa com a opinião alheia e mais segura ela se torna.
Chegar aos 40 com a mesma cabeça dos 20 e dos 30 é um desperdício de tempo. Ainda mais com as grandes evoluções sociais pelas quais estamos passando, não faz sentido continuar com a mesma cabeça. Acho que evoluímos muito em relação ao conceito de assédio de mulher independente e empoderada. E as crianças já nascem com esses conceitos, mas não faz sentido a gente não acompanhar. Por isso é sempre bom conversar e estar cercado de jovens, para manter nossos ideais atualizados e mudar, sempre mudar. Sem perder nossa essência, claro.