Sobre torcidas
Bom dia, boa tarde, boa noite, minhas jogadoras. Estamos na Copa, então vamos falar de torcidas, certo? Errado. Outro dia estava esperando a hora do meu programa e assisti um outro programa em que duas mulheres falavam de empoderamento feminino, mas… Falando mal de outras mulheres. E ainda mais: enaltecendo homens conhecidos por serem exacerbadamente machistas. Eu parei de seguir todos esses grandes gurus para poder seguir grandes mulheres, para que meu discurso ficasse mais afiado e feminino, para que eu pudesse citar mulheres, para que eu pudesse exaltar mulheres. É um exercício.
Essa coisa de levantar a bola das mulheres é algo novo até mesmo para nós mulheres, que não temos o hábito de falar bem de nós mesmas, muito menos uma da outra e, embora haja um movimento de sororidade muito grande tomando forma, ainda estamos - como disseram as meninas no programa - longe de acabar com o machismo. Mas o que estamos fazendo para acabar com esse machismo?
Eu não estou falando do machismo dos homens que batem em mulheres não, ok? Estou falando do machismo dos homens que dominam o mundo do trabalho intelectual no qual quase não há espaço para mulheres. Na política, quase não há mulheres. No meu meio empresarial no BNI, por exemplo, as pessoas ouvem falar do trio feminino que está liderando um grupo no Rio de Janeiro. Pois quase nunca houve um trio feminino na Liderança. Isso tem tudo a ver com representatividade.
Nós não vemos mulheres em cargos de Liderança, logo presumimos que as mulheres que lá chegaram se masculinizaram para isso. Ou tiveram ajuda de alguém. Ou trabalharam sem parar. Assim como os homens. Ou se uniram a homens fortes. Seguem homens.
Será que existe como fazermos isso sendo vulneráveis, mães, filhas, sendo ora mulheres fortes, ora fracas, com certeza cíclicas? Errando, acertando, diferente de homens, mas atingindo os mesmos lugares de poder, os mesmos patamares, os mesmos objetivos? Será que existe uma forma de se chegar ao mesmo lugar percorrendo caminhos diferentes? De formas diferentes? Será que restou lugar para nós? Ou será que precisamos tomar esse lugar?
Eu sinceramente acho que há poder para todo mundo, há abundância e prosperidade para todos. Talvez seja mais fácil para eles? Sim, o mundo foi feito deles para eles, é óbvio que as formas que já são conhecidas são as formas masculinas. Nós podemos citar eles o tempo inteiro e tentar chegar onde eles chegaram do jeito que eles chegaram. Vai ser bem mais difícil. Mas somos capazes sim.
Mas há uma forma de nos unirmos e traçarmos novos caminhos. No empreendedorismo, por exemplo. Vejo o empreendedorismo como uma deusa feminina. É no empreendedorismo que conseguimos criar nossos filhos sem voltar para o mercado de trabalho. É aqui que conseguimos dinheiro, é aqui que chegamos no poder de que tanto falamos e o empreendedorismo é a base da economia brasileira e mundial. São as pequenas e médias empresas que sustentam esse país. Mas só é possível um empreendedorismo de sucesso e feminino se as. mulheres se unirem e passarem a dialogar, em vez de se criticar, de se diminuir, de fazerem programas para falarem das mulheres mais fracas, das que atrasam, das que não trabalham como homens.
Em 2019 tive duas mentorandas de salão de beleza, uma queria trabalhar como uma máquina, a outra queria trabalhar depois de meio-dia, pois de manhã estava em função dos filhos. O salão andou, mas com uma só no comando. Adivinha quem? A segunda. Hoje é um salão de sucesso com agenda lotada. Tenho o maior orgulho. Mas tenho que admitir que, na época, não entendia muito bem como as pessoas iam empreender trabalhando a partir de meio-dia. Eu estava julgando uma mulher forte e destemida que tinha uma ideia de salão que funcionaria sem ela até meio-dia, mas que funcionaria com ela até 20h da noite. E ela fez vingar. Era seu sonho.
Hoje faço um esforço imenso para não julgar mulheres. Não é fácil. Mas me esforço, pois só nós, dentro do nosso íntimo, sabemos o que tem pro trás de toda a luta, de cada vitória, de cada perda, de cada fracasso… Não temos ninguém para dividir nossas dores com a gente.
Dizem que por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher. Por trás de uma grande mulher tem um monte de feridas. E sempre gente pronta pra atirar mais uma flecha, pra ferir mais, para rir das feridas. Não há uma única alma para nos amparar. Acho que chegou a hora de mudarmos esse jogo. De nos unirmos realmente, de consumirmos mulheres, de termos um discurso feminino no feminino, de fazermos valer as mulheres que há em nós, sem criticar as mulheres que há nas outras.