Suicídio: precisamos falar sobre isso!

 


Bom dia, boa tarde e boa noite, meus amores. Vamos dedicar esse programa a um tema que nos é muito caro e que tem tudo a ver com a nossa saúde mental: o Setembro Amarelo. Esse mês serve para colocarmos uma lupa nos problemas de saúde mental e quanto mais falarmos sobre o assunto mais ele fica comum e menos tabu é tratar sobre isso. Eu tenho depressão desde a minha adolescência e, com 15 anos, ocorreu a minha primeira tentativa de suicídio, pois meus pais estavam se separando e brigando e só olhavam para seu próprio umbigo.

Se foi um pedido desesperado por atenção ou se foi uma real vontade de acabar com tudo e simplesmente sumir. Inúmeras eram as cartas de adeus que eu já escrevi para eles, mas, naquela época, foi uma única tentativa real de acabar com a minha própria vida.

Depois aconteceu de novo, já com 30 anos na cara, ou seja, não era uma simples vontade de chamar atenção, é que a vida tinha se tornado pesada demais e meus ombros não aguentavam mais carregar o mundo nas costas. Eu jurava que ninguém ia nem perceber, nem dar falta, afinal, como já contei aqui, desde o meus 17 anos, sou eu e eu na minha vida.

Com 37 anos, houve um episódio que eu não sei dizer para vocês se foi uma tentativa de suicídio ou não. Eu simplesmente queria dormir. Dormir para esquecer dos problemas. Tomei meu zolpidem e 0,5 mg não fizeram efeito, fui tomando de meio em meio mg até terminar o potinho inteiro. Depois, já alucinando, peguei todos os remédios da minha mini farmácia que poderiam me fazer dormir. E todos os outros. Eu queria dormir. Se isso era uma metáfora para morrer, até hoje eu não sei.

Um anjo, então, entrou para a minha vida, pois fui internada num hospital normal para fazer lavagem estomacal e, antes que a ambulância para o hospital psiquiátrico chegasse, meu atual psiquiatra chegou e me tirou daquela situação. Não sei o que teria sido de mim em um hospital psiquiátrico.

Hoje sou uma mulher de 40 e desde então (há 3 anos) estou cuidada e medicada e nunca mais passou na minha cabeça a ideia de acabar com a minha vida, muito pelo contrário: hoje eu enxergo exatamente quanto vale a minha vida e quanto é necessário que eu esteja viva, pois da minha vida depende a vida de várias outras pessoas que me amam, que precisam de mim inteira, feliz.

Esse último episódio foi um burnout. Não sei se vocês sabem, mas essa é uma doença ligada ao excesso de trabalho e ao estresse causado por ele. Hoje, a OMS o reconhece como doença incapacitante. E é mesmo. Tinha crises de ansiedade de não conseguir colocar o carro em movimento. Já fiquei travada na rua mais de uma vez por causa disso. Taquicardia, mãos suando, medo, pavor, fobia social, vontade de chorar.

Gente, é um direito que nós temos esse de sermos felizes nessa vida. E de fazermos os outros felizes. E de estarmos em um ambiente em que a nossa vida tenha o seu devido valor. De vivermos os momentos sem tensão, sem desespero.

Se você, em algum momento da sua vida, pensou que a sua vida não iria fazer falta para ninguém, acredita em mim, isso foi uma ilusão da depressão no seu cérebro, pois a sua vida está intrincada com muitas outras vidas e ela é absolutamente necessária para algumas pessoas.

A sua ausência vai deixar um vazio para sempre na vida de pessoas que você nem imagina. Acredita em mim. Só acredita. Não tente racionalizar, pois, quando estamos em depressão, a química do nosso cérebro está toda alterada. Nós não produzimos dopamina, serotonina e neurotransmissores ligados à felicidade e ao prazer.

É químico. E essa alteração química precisa ser tratada com remédio. Não ouça as pessoas que mandam você dar a volta por cima, lavar uma louça, tomar um banho e acordar, tem as pessoas que têm receitas caseiras, tem os consultores de óleos essenciais. Tem de tudo, mas só psicólogo e psiquiatras bons vão poder te ajudar de fato.

Bons que eu digo, indicados por alguém que realmente tenha melhorado com seus tratamentos, pois vou ser sincera: já vi muito profissional de fundo de quintal por aí. Só quem já viveu a depressão na pele sabe o quão difícil é levantar de uma cama e ir tomar um banho, “sacudir a poeira".

Quanto a mim, não estou curada ainda, nem acho que depressão e ansiedade tenham cura. Vou ser seguida por um profissional até que possamos espaçar a medicação ao ponto de não ter mais nenhuma crise e ao ponto de o meu cérebro produzir naturalmente as substâncias que tenha que produzir.

Eu não entendo por que ninguém manda quem tem câncer tomar um chá de alguma coisa para se curar. Mas depressão pode ser curada com chãs e essências. Não caia nessa.

Converse com alguém que já tenha passado pelo que você está passando nesse momento. Essa pessoa sim sabe como te ajudar. Ela sabe como fez para sair dessa situação. Não é normal não produzir, não querer sair da cama, não querer sorrir. Embora às vezes a pessoa esteja sorrindo e extremamente depressiva. Eu mesma, ninguém diria que eu estivesse com depressão, só eu, dentro de mim, sabia os desafios que estava enfrentando e as coisas que se passavam na minha cabeça.



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