O retorno ao trabalho após a maternidade
Olá, minhas queridas mulheres de trinta, de quarenta, de setenta e três e mais! Como é a vida de uma nova mãe, que acaba de sair da licença maternidade e precisa retornar ao trabalho? Pelo que ela passa? Como é se adaptar ao trabalho tendo uma nova vida para cuidar? A maioria das mães sente diversas emoções ao voltar para o mercado de trabalho depois de ter um bebê. Algumas dessas emoções são bem conflitantes. É sobre isso que vamos conversar hoje, no podcast Mulher de 40+.
O nosso encontro é com a terapeuta de mães Silmara Luz e suas convidadas: Laís Contiero, Dialiny Teixeira e Anyellia Spaler.
Transcrição retirada do programa Mulher de 40+ na Rádio Ponto e Vírgula.
Silmara Luz
Boa tarde gente, tudo bem com vocês? Bom, como podem ver não é Isabella Fortunato, Tô aqui invadindo o espaço da Isabella, a Isabella essa semana tá se recuperando, meu nome é Silmara Luz, eu sou terapeuta de mães e hoje nós vamos falar sobre o retorno ao trabalho após a maternidade. E pra conversar comigo sobre isso eu trouxe algumas mentorandas minhas que já estão no final do processo delas. Então hoje a gente vai falar com a Dialine Teixeira, com a Anyellia Spaler e com a Laís Contiero. Meninas sejam bem-vindas. Que alegria ter vocês aqui. Tudo bem? Tudo bem? Muito bom. Me contem aí, falem um pouquinho pro pessoal sobre vocês, porque eu já conheço vocês. Então, contem um pouquinho sobre vocês, Di, cê pode começar?
Dialiny Teixeira
Meu nome é Dialine, sou servidora pública do estado de Minas Gerais, sou mãe da Estela que tá com um ano e cinco meses amanhã e estamos aí na luta, aprendendo cada dia mais essa missão gostosa que é ser mãe, muito desafiadora.
Silmara Luz
As delícias e os desafios, né?
Dialiny Teixeira
Isso.
Silmara Luz
Tem uma campanha até que fala sobre a maternidade que se chama Maio Furta-cor, porque é exatamente isso, na maternidade é furta-cor, tem dia que ela tá daquele jeito e tem dia que ela tá linda e maravilhosa, né? Ane, pode falar um pouquinho sobre você?
Anyellia Spaler
Oi. Eu sou a Ane. Eu sou a Anyellia e todo mundo me conhece como Ane, eu sou a mãe da Rebeca de um ano e nove meses, ela também me chama de Ane. É a vida. Eu não trabalho fora, eu fico em casa e eu cuido dela, eu sou dona de casa.
Silmara Luz
Muito bom. Laís, pode se apresentar?
Laís Contiero
Eu empreendo no crochê hoje, trabalho em casa. Sou mãe do Murilo de seis anos e do Miguel de dois anos. Tô aí me desafiando todos os dias pra tentar dar conta de tudo, né? Que a gente tenta dar conta de tudo.
Silmara Luz
Exato. E a Laís está num pós-cirúrgico aí né? Atrasou aí pra entrar porque tomou remédio errado na doideira o filho chegou com febre.
Laís Contiero
Sim eu acho que é perrengues de mãe né? No nono dia de pós-operatório de uma cirurgia, aí eu tô com o meu mais novo em casa que não deu pra eu levar pra escola, meu marido teve que trabalhar externo hoje, o meu mais velho chegou com febre, fiquei nervosa, tomei o remédio errado. E é assim, é perrengue de mãe, faz parte. E deu tudo certo, né?
Silmara Luz
Exato. Eu tava falando com vocês aí no individual de cada uma e cada uma tava com o seu motivo, né? É uma que não tinha com quem deixar a filha, a outra que tava atrasada lá no shopping, a outra que tava com os filhos aí, um doente, né? Tudo essas coisas. E aí eu falei, né? Gente, programa de mãe tem que ser assim, né? Não tem graça. Eu às uma e meia o Miguel ainda não tinha conseguido dormir, tá? Só pra vocês saberem. Então uma e meia tava lá correndo pro Miguel dormir, meu Deus do céu, não vai dar tempo e é assim mesmo. Assim é a vida. E eu acho que isso tem tudo a ver com o que a gente vai falar hoje, né? Sobre o retorno ao trabalho após a maternidade e a minha primeira pergunta vai pra Ane. A Ane falou que não trabalha fora. Ane, não trabalha fora, mas a gente até conversou sobre isso mais cedo, né? Você acha que...
Anyellia Spaler
Eu sou dona de casa, mas a gente tem muito mais trabalho, que são trabalhos diferentes. São trabalhos completamente diferentes, a gente tem que dar conta de tudo, a gente tem que, entre aspas, né? Dar conta de tudo. A gente tem que fazer a comida, a gente não tem intervalo, a gente não tem pausa, a gente não tem hora de almoço, tem que cuidar da casa, tem que cuidar da criança, a criança tá agarrada na gente o tempo todo. É uma loucura, é muito trabalho.
Laís Contiero
É desafiador, né?
Anyellia Spaler
É. Tem que ter um remelexo.
Silmara Luz
E como é que foi pra você essa decisão de ficar em casa com a Rebeca?
Anyellia Spaler
É uma decisão difícil e fácil ao mesmo tempo, né? Trabalhar é uma coisa legal, uma coisa que agrega na gente, tem gente que vive pelo trabalho, que a paixão da vida da pessoa é trabalhar, mas assim, eu enxergo que criar, né, educar uma criança, formar aquela pessoa é o trabalho mais importante que alguém poderia ter, na vida, né? Você fala muito que a gente cuida da mãe, a gente cuida não só da mãe, mas a gente cuida do filho e a gente cuida de todas as gerações dali pra frente. E é isso, né? O trabalho mais importante que alguém poderia ter é cuidar daquele ser humano e formar um cidadão de bem, formar uma pessoa, ajudar na formação daquele caráter, né? Então eu acredito que é fundamental assim, o mais importante possível.
Silmara Luz
Muito bom. Dialiny, você que é plantonista, que trabalha dia sim e dia não, que já chegou pra mim com a frase, "Não tô dando conta de nada". Como é que é pra você lidar com a rotina que todas nós sabemos que é uma rotina muito desafiadora e lidar com esse trabalho que é um um trabalho muito legal. Primeiro falar sobre o seu trabalho né. A Dialiny tem um trabalho incrível e como é que você lida com isso? Trabalhar de plantonista, dar conta da Estela, das coisas de casa, como é que é pra você?
Dialiny Teixeira
Então, primeiro é plantonista, mas um plantão de dia, um plantão noturno e folga três. Aí nas três folgas primeiro cê tem que dormir, pra descansar do plantão noturno. E dá conta de casa, tô dando conta, antes não tava conseguindo me organizar, né? É casa, trabalho, cuidar de si mesma e isso aí estava sendo muito desafiador, né? Tanto que eu procurei a mentoria pra poder me auxiliar, me organizar e tem me ajudado bastante, né? A gente tem se culpado menos, tem se cobrado menos, né? Aceitar que a gente não não precisa, não é obrigada a dar conta de tudo, que a gente pode dividir as responsabilidades inclusive uma delas logo no início da mentoria, eu consegui colocar a Estela na escola. Então assim a Estela hoje estuda na parte da manhã e à tarde está aqui comigo e agora dormindo. É um olho aqui e outro na babá eletrônica pra gente poder conversar.
Silmara Luz
Uhum. Maravilhoso. E você falou de culpa e essa palavra culpa pra mim me remete muito a Laís. A Laís é uma empreendedora que fica em casa, que tem dois filhinhos, o Murilo e o Miguel, ela também tem o Miguel que é da mesma idade que o meu inclusive. E a Laís tinha essa questão muito da culpa, né? Da produtividade, porque nós, que eu também me incluo, que somos empreendedoras que trabalhamos de casa também temos essa questão de conseguir afastar a criança, conseguir trabalhar, foco no trabalho, foco na criança. E você Laís, como é que você anda dando conta das coisas?
Laís Contiero
Ai eu vou vou rebolando, né? Faço um pouquinho ali, um pouco aqui e vou assim, mas a questão da cobrança mesmo, mãe se cobra muito, a gente se cobra pra dar o melhor pro filho, né? A gente quer fazer tudo. Se desse pra gente se dividir em cinco pessoas, né? A gente tentaria pra dar conta de ser uma esposa, de ser uma boa mãe, ser uma dona de casa, ser empreendedora. É desafiador, mas com as mentorias da Silmara, hoje eu também consigo... que antes eu passava o dia inteiro fazendo crochê. O dia inteiro. O dia inteiro fazendo crochê, o dia inteiro sendo mãe, o dia inteiro sendo dona de casa. E eu me cobrava muito, porque eu tinha que produzir X por mês. E hoje não, hoje eu falo, ah, não deu. Consigo organizar melhor o meu horário e se não deu, tudo bem. É como a Silmara sempre fala pra mim, né Sil? Se não deu, tudo bem. E hoje eu sou muito mais produtiva, eu consigo duas horas que eu paro pra realizar o meu trabalho, eu consigo ser muito mais produtiva do que ficar o dia inteiro fazendo crochê, tentando cuidar da casa, cuidando dos meninos. Hoje eu tô e não me culpo mais se eu não conseguir fazer determinadas tarefas no decorrer do dia.
Silmara Luz
Legal. É, é uma coisa que eu sempre digo e agora falando de mim, né? Mãe também é gente. Então a Laís falou, né? A gente tá tão preocupada em fazer coisas pros outros, tá tão preocupada em cuidar da criança, como a Ane disse, cuidar da criança e não ter tempo pra pensar, você não tem tempo pra pensar. Você vai fazendo, né? Tem que fazer comida. Está na hora de fazer tal coisa. Está na hora de dar o remédio, está na hora de tal coisa. A Dialiny também falou, é um olho aqui e um olho na babá. Então assim, é tanta coisa uma em cima da outra que a gente esquece que existe uma pessoa atrás da maternidade. Existe uma pessoa que precisa ter desejos supridos, existe uma pessoa que tem necessidade sim muitas vezes da realização duma carreira, existe uma pessoa ali atrás, né? De tudo isso. Então como é que é dar conta de ser mulher além de ser mãe? Como fazer isso? Então a primeira coisa que eu sempre digo é ter o pai participativo, né? Ane como é que é pra você o pai aí em casa?
Anyellia Spaler
Aqui, graças a Deus o pai ajuda. O pai ajuda não, o pai faz a parte que corresponde a ele.
Silmara Luz
Num pode falar que o pai ajuda nessa altura do campeonato.
Anyellia Spaler
O pai não ajuda não, o pai faz a parte dele. Isso é fundamental, né? Aqui o meu marido, Marcelo, sai pra trabalhar muito cedo, né? Cinco e meia assim no máximo ele já saiu de casa. E ele volta lá pra umas seis e meia, sete horas. Então a maior parte do tempo sou eu sozinha com a Rebeca, mas o fato dele chegar e fazer a parte correspondente, né? De ficar com ela, de ter cuidado com ela, de participar dos cuidados com ela. De dividir a carga realmente comigo, final de semana, quando ele tá disponível, no feriado, isso faz completamente completa diferença pra gente, né? Pra mãe, porque senão sobra tudo pra gente, né? E a gente simplesmente não dá conta.
Silmara Luz
Uhum. E aí a gente consegue perceber analisando isso o quanto é importante não só pra você como mãe, como pro seu relacionamento porque ele acaba entendendo um pouco mais o que você está sentindo né? Apesar de fazer menos coisas porque ele tem essa carga que ele trabalha fora, precisa sair muito cedo e também pra Rebeca, né? O quanto de memória ele tá criando nela, porque na cabecinha dela, não é porque assim... o que eu vejo muito são crianças que ficam nas festas, nos lugares agarradas com a mãe o tempo inteiro. Alguém tenta pegar, a criança não quer e a mãe tá ali esgotada, todo mundo aproveitando e a mãe ali com a criança, né? Mas por que aquela criança está daquele jeito? Será que é porque ela é birrenta? Ou será que é por conta da realidade dela em casa? É o tempo inteiro com a mãe, né? Então é bom pra todo mundo, é bom pra ele que participa da vida dela, que vê os marcos dela, é bom pra vocês como casal, que ele começa a te compreender melhor e é bom também pra Rebeca, né? E acho que a Laís tem um pouco pra falar sobre isso na questão de ser melhor pra vocês como casal. Laís, conta um pouquinho da sua experiência.
Laís Contiero
Eu sou uma mãe de pandemia né? Igual a Silmara. E os meninos ficavam o tempo todo comigo, né? E o meu marido também não participava, ele não fazia o papel dele como pai porque ele passava o dia inteiro trabalhando, ele chegava e chegava cansado e acabava ficando muito em cima de mim. Acabou que agora ele arrumou outro emprego, ele trabalha mais em home office do que na empresa, né? Então ele acaba participando mais e hoje ele até fala que é tão gostoso, porque esse momento é único, né? Criança cresce, passa muito rápido e é muito bom pro casal. A gente acaba tendo mais tempo, as tarefas não ficam acumuladas só em cima de mim, é dividido. Tanto que hoje quem dá banho nos meninos é ele. É o momento dele e ele que prepara o café, ele que põe os meninos na escola. Então isso é muito importante. Melhorou muito a questão do relacionamento, nosso e dele com os meninos, porque antes os meninos não queriam nada com o pai. Ah, é hora de comer. Eu quero a mãe. Então, eu ficava igual um polvo, né? Eu comendo, porque eu aprendi uma coisa, quando você vai dar comida pro filho, come junto, porque senão depois você não come. Não é?
Silmara Luz
Ou você come o resto, né?
Laís Contiero
É. O do Murilo foi assim. Eu comia o resto e quando eu comia. Que às vezes eu passava o dia sem comer. aí com o Miguel eu falei não, quando for dar comida pro Miguel, meu prato vai tá do lado, né? E hoje ele consegue participar muito mais, tá? Às vezes os meninos até falam "Ah eu quero o pai", eu acho tão bom isso, tão importante e é muito muito bom, muito bom. O relacionamento muda. Em relação a tudo em casa.
Silmara Luz
Inclusive ele te entende mais também, né? Porque era uma questão aí na sua casa isso, né? O Luiz não tinha tanta compreensão e agora ele passou a ter, né?
Laís Contiero
Sim, e principalmente, agora eu fiz uma cirurgia e eu tive que ficar de repouso absoluto. E ele trabalhou, ele cuidou dos dois meninos, ele fez comida, ele lavou roupa e ele falou assim, é muita coisa. É muita coisa. Não dá pra uma pessoa só fazer. Ele chegava no final do dia e falava, "Ah, ainda tenho louça pra lavar, eu tô exausto já."
Silmara Luz
E eu lembrei de um filme, né? Aquele filme lá, Se Eu Fosse Você, que a gente só dá valor no trabalho do outro quando a gente de fato faz o trabalho do outro, né? A gente não costuma dar e o trabalho da mãe geralmente não é valorizado, né?
Laís Contiero
Não é, não é fácil, é muita coisa mesmo. E assim, eu acho que uma coisa que nós tentamos dar conta de tudo, mas o que é mais difícil hoje eu vejo com o Murilo de seis é o educar. A gente tem que ser repetitiva e você tem que tá muito atenta aos movimentos do seu filho.
Silmara Luz
Exato. Né? E aí se acontece algo que te cansa demais você acaba deixando passar por cansaço, né? Ah tá bom, quer fazer isso? Então vai lá e faz, tudo bem.
Laís Contiero
Sim, às vezes ele chega contando uma história da escola e às vezes na correria do dia a dia a gente não dá atenção aquilo. E aquilo faz toda a diferença. Toda a diferença de você ouvir, de entender e orientar, né?
Silmara Luz
E pega no gancho do que a Ane disse e realmente é o que eu falo. Quando você cuida da mãe, você cuida melhor da criança. Porque você vai dar mais ouvido pra criança né?
Laís Contiero
Sim.
Silmara Luz
Di, e aí na sua casa, como é que é a participação do papai? Daniel, né?
Dialiny Teixeira
(...) O dia todo mas de manhã as tarefas aqui, assim quando eu estou em casa nos meus dias de folga né? Até quando antes de sair pro plantão, a gente sai mais ou menos no mesmo horário, ele costuma ficar com a Estela, aquela questão da parte da manhã, troca a fraldinha, dá um remédio, troca a roupa. Enquanto isso eu estou agilizando a bolsa da escola, a bolsa que vai pra casa da vovó, porque a minha sogra é minha rede de apoio aqui, né? Enquanto a Estela não tá comigo ou na escola, ela tá com a vovó. E aí eu vou agilizando as outras coisas da casa pra gente poder sair. E a noite ele também participa bastante, a Estela é muito grudada nele e é importantíssimo, eu acho, a criança ter as duas figuras, né? Quando é possível. Importante ter essa referência, a gente já consegue identificar no comportamento dela o que que ela tem a mãe como referência, o que que ela tem o pai né? Então eu acho que isso aqui em casa a gente se ajuda, a gente se ajuda bastante assim nesse sentido com os cuidados com ela, sabe? No dia a dia. É claro que comida, como eu escolhi o plantão justamente pra ter mais dias de folga pra eu poder dar mais atenção pra ela, acompanhar essa situação da alimentação, né? Da educação mesmo, do desenvolvimento dela, então eu fico mais com essa questão e quando ele chega eu compartilho "Amor, vamos desenvolver isso, ela fez isso..." pra gente poder ir trabalhando junto essa questão
Silmara Luz
Sim, maravilhoso. E é isso né a parceria ela ajuda em tudo, e a Laís falou uma coisa que é verdade que às vezes querem só o pai. Ontem aconteceu algo que foi mais ou menos assim. O Miguel foi na cozinha pediu água e eu falei "Quem você quer? A mamãe ou o papai?" aí ele virou pra mim e falou "Papai" eu falei...
Dialiny Teixeira
É engraçado que eles acham que a gente fica com ciúme, né?
Laís Contiero
É falar, ah que bom, tô de folga.
Silmara Luz
E Di como é que foi pra você a questão do retorno ao trabalho?
Dialiny Teixeira
Olha confuso né? Ih, alguém acordou. Confuso porque a Ane até falou a questão de ser produtiva né? E a gente sente falta da nossa produtividade, quem sou eu, quem sou eu mãe, quem sou eu Dialiny e aí ao mesmo tempo que a gente sente falta desse retorno das atividades, a gente quer estar ali cuidando, não quer desgrudar do neném, do filhinho e aí foi um pouco desafiador nesse sentido, mas a rede de apoio é fundamental pra poder a gente seguir o nosso caminho sabendo que a nossa filha está bem cuidada e vai ficar em paz. Ela vai seguir também, a vida precisa continuar né?
Silmara Luz
Se quiser pegar ela Di, pode ir lá pegar, tá?
Dialiny Teixeira
Eu vou. Eu vou gente, dá licença.
Silmara Luz
Pode ir, vai lá, vai lá. Laís, rede de apoio, aproveitando o gancho da Di aí, a rede de apoio. Como foi fundamental pra você a rede de apoio, quantas pessoas compõem a sua rede de apoio? Como é que funciona aí na sua casa?
Laís Contiero
Olha, pra mim aqui é bem complicado. Minha rede de apoio é minha mãe, minha sogra e minha irmã. Mas durante a semana todas elas trabalham. Mas é essencial. Essencial. Durante a semana fica um pouco puxado pra mim em relação a rede de apoio. Mas no final de semana elas me ajudam muito. Antes eu tinha um certo preconceito em relação a deixar os meninos com alguém porque eu me cobrava, né? Eu falava "Não, sou eu que tenho que cuidar, sou eu, né? Vou incomodar". Eu achava que eu estaria incomodando, mas pelo contrário, é o momento delas de vó, de tia com eles e eu consigo ter meu momento, né? Consigo sair com meu marido, eu consigo tomar um banho tranquila e é muito bom, muito bom, é libertador, né? Eu falo que é libertador, porque a gente depois que nós nos tornamos mãe, e a gente fica muito limitada quando está com eles, né? E ter esses momentos sozinha, fazer coisas que nós gostamos é muito bom. Muito bom.
Silmara Luz
Sim. E Ane, pra você que é mãe dona de casa, é importante também a rede de apoio?
Anyellia Spaler
Nossa, é muito importante. A rede de apoio é fundamental, né? Só que eu tô aqui no Rio Grande do Sul, eu sou carioca e aqui eu tenho uma pessoa na minha rede de apoio, que é a minha mãe, que trabalha. Então faz falta ter uma rede de apoio maior, né? A Rebeca fica em casa o tempo todo, cem por cento do tempo comigo e sempre que eu posso, sempre que a minha mãe pode, ela me dá uma ajuda, né? Então hoje, por exemplo, a Rebeca tá com a minha mãe pra eu poder tá aqui participando. E a rede de apoio faz diferença, né? Pra gente, no meu caso eu não consigo ter dias certos pra Rebeca ir na casa da minha mãe, nada disso, mas só o fato de eu conseguir ter um alívio ali de vez em quando né? Uma coisa pontual, ah eu preciso ir a um médico, eu tenho com quem deixar a Rebeca faz diferença porque senão a gente não consegue viver, a gente simplesmente não consegue, né? Se eu tiver que fazer um exame de sangue, eu vou com a Rebeca, a sociedade não tá preparada pra isso, mas eu vou, seguro a Rebeca no colo, dou um braço pra tirar o sangue e seguro a Rebeca no outro braço e vambora. Mas tem médico que não dá pra levar a Rebeca, né? Tem situações que realmente não tem como você fazer se você tiver com o bebê do lado. Então, tem que ter rede de apoio. Tem que ter algum apoio pra você respirar de vez em quando, pelo menos.
Silmara Luz
Uhum. Sim e aí é uma coisa que é bem nebulosa ainda né? A rede de apoio é o que a Laís falou. A rede de apoio sentia muita culpa de deixar a criança. Você também já sentiu isso Ane?
Anyellia Spaler
Existe mãe que não sentiu culpa?
Silmara Luz
Exato. Di como é que é a rede de apoio aí?
Dialiny Teixeira
(...) Porque a minha mãe mora em Juiz de Fora, eu moro em Belo Horizonte né? Minha família toda de lá e aqui eu tenho a família do meu esposo. Então eu conto que não é muito extensa, né? E eu conto com a minha sogra e é isso aí que vai me ajudando a escapar, né? A Laís falou aí também. A gente precisa ter o nosso tempo, né? A escola foi uma outra escolha também, apesar de muito pequena a Estela, entrou com um ano e dois meses, mas a escola também tem sido o meu escape. Além da rede de apoio que entra, né? Acaba entrando aí.
Silmara Luz
Sim, porque a escola também é uma rede de apoio, né? A gente pensa, quando a gente fala em rede de apoio, a gente pensa em pessoas. Ah, mas eu não tenho ninguém, não tenho parente, minha mãe é de fora, a Estela aí já teve participação do Miguel e da Estela. Minha mãe é de fora, né? Não tenho parentes, mas é uma opção também a rede de apoio paga, né? Às vezes a gente não pensa nisso, às vezes a gente se sente tão culpada em deixar que a gente esquece disso, mas a escola é uma rede de apoio paga, babá é uma rede de apoio paga, né? Mas é muito importante sim a gente ter rede de apoio e isso eu acho que é fundamental pra essa volta ao trabalho ou até mesmo quando vai ficar em casa né? Porque não é porque a mãe fica em casa que eu estava falando com a Ane hoje de manhã que ela não faz nada. Pelo contrário, quando a gente trabalha fora a gente tem horário pra entrar e pra sair, mas a gente quando é mãe em tempo integral, cê não tem horário de bater ponto, né? A filha da Dialiny mesmo, gente, ela acorda, tem dia que três e meia da da manhã, né? Tipo, eu não sei como ela consegue. Mas tem dia que três ela está postando stories lá. Não sei como consegue, mas assim, não tem horário pra finalizar o expediente. Não tem horário pra iniciar. Na hora que a criança acorda você tem que iniciar. Né? Então é muito importante pras mães que estão em casa também a rede de apoio. E meninas, como é que a gente faz pra não se sentir culpada em deixar as crianças com a rede de apoio? Vamos ver se vocês já estão tinindo aí na mentoria. Laís me conta aí como é que você faz pra não se sentir culpada?
Laís Contiero
Ah hoje eu não me culpo mais não, gente eu acho é bom. Eu até falo assim pra minha irmã, quando a minha irmã fica com os meus filhos eu falo assim, Olha, eu como tia, eu fui muito privada em ficar com a minha sobrinha, porque eu trabalhava fora, não tinha tempo e minha irmã era muito grudenta com a minha sobrinha. E eu viro pra minha mãe e falo assim, é o seu momento tia com ele. Aproveite, faça o que você quiser. Ela vai cuidar muito bem. Porque eu tinha esse preconceito. Eu falo, gente, eu tenho medo. E se ele cair, se ele, não sei o não. Agora deixa, deixa ela curtir o momento dela como tia, a minha mãe mesmo, eu deixo com a minha mãe, minha mãe faz o que ela quiser e ela adora levar os meninos pro parque. E antes eu ficava assim, ai no parque? Eu era neurótica gente, no parque e se ele cair? E se passar alguém roubar ele? Sim, eu ficava, ai meu Deus, se ele comer terra? Eu falo, não, é o seu momento como vó, vai lá e curte. Mas antes eu me culpava muito, eu achava, eu falava assim, a Laís de antes. "Ai Débora não vai te atrapalhar?" minha irmã "Não vai te atrapalhar? Não imagina hoje não". É o momento deles, depois eles crescem e não vai, vai virar adolescente, não vai querer mais ficar com a tia, com a vó e eu acho que é essencial pra criança ter esses momentos. Até pra desgrudar o umbigo um pouco da gente, sabia? Eles são crianças diferente longe da mãe, longe do pai, né? É muito bom, muito bom. Ah eu não me culpo mais não, eu acho é bom viu gente? Às vezes eu falo assim, ai pode pegar o dia que você quiser. Mas é pra minha mãe, minha sogra e minha irmã.
Silmara Luz
Isso. Pra rede de apoio mesmo, não é?
Laís Contiero
Minha rede mesmo de apoio.
Silmara Luz
Sim. Maravilhoso. E você Ane?
Anyellia Spaler
Eu já não me sentia culpada. Mas eu tinha medo de pedir. Então assim, eu aqui só tenho a minha mãe, eu não tenho mais ninguém, a família, minha família tá toda no Rio de Janeiro, a família do meu marido tá toda no Rio de Janeiro, então aqui a gente só tem a minha mãe mesmo. Eu falava, poxa, mas né? Semana que vem eu tenho médico, então não vou pedir essa semana de novo, né? Eu vou ficar incomodando. Então, eu tinha muito medo de pedir, muita vergonha, assim, sabe? Ai, eu não quero incomodar. A minha mãe tem os trabalhos dela, as coisas dela. Então, eu ficava muito nessa de, não, deixa pra quando for alguma coisa mais importante. Não, deixa pra outro dia. E aí eu ficava com medo de pedir ajuda, medo de falar pra ela assim, poxa, você pode ficar com a Rebeca? Né? Inclusive obrigada Silmara, minha mãe está com a Rebeca e eu ganhei um vale night, ela só vai devolver a Rebeca amanhã
Silmara Luz
Essa noite cê vai dormir né?
Anyellia Spaler
Essa noite eu vou dormir. Então assim, eu não tinha tanto lance da culpa, né? Também acho maravilhoso, quer ir lá, quer levar? Leva, leva, aproveita, se diverte. Mas eu tinha muito medo de pedir, de tá incomodando, de incomodar mesmo, né? De falar, ai que saco, de novo, ai semana que vem, ai, de novo? Gente, ela é avó e querendo ou não, a minha mãe é a única família que a minha filha tem aqui perto. O resto todo da família está a mais de mil quilômetros de distância. Então nossa, se é pra gastar tempo com alguém, vamos gastar tempo com a família, né?
Silmara Luz
Hm-huh. Maravilhoso. E você Di? Já se sentiu culpada? Como é que foi o processo da escola?
Dialiny Teixeira
Hoje em dia ainda é difícil não se sentir culpada porque tem a questão até onde é normal, até onde eu não estou incomodando mesmo, não estou exagerando, ultrapassando do bom senso né? Porque a gente acaba ficando afobada pra querer fazer um monte de coisas e a gente fica preocupada mesmo se não está incomodando, se está atrapalhando a pessoa em alguma coisa né? Mas a gente lembra que mãe também é gente e todas nós falando de mulher, fomos mães né? Elas foram, as avós foram mães, elas sabem como funciona. Então a culpa às vezes tende nesse sentido de saber separar, né? O tanto que é normal, o tanto que cê tá ultrapassando o limite, né? Mas a gente reconhece que é necessário, todo mundo faz, uma hora uma vai precisar e família, criança é gostoso demais, né? Igual a questão da tia, tia curte, vai, faz a bagunça que cê quer. Eu também sou tia, curtia demais, ficar com as minhas sobrinhas, então eu tento me colocar também no lugar delas. Vai, curte. Aproveita, tia.
Silmara Luz
Pronto. E a Laís falou uma coisa que eu escuto muito, né? Ah mas não vai cuidar como eu, inclusive isso eu fazia com o meu marido. Ah, mas ele não vai cuidar como eu. Ah, mas ele não vai e não vai mesmo, gente. Não vai, né? E está tudo bem. Ainda bem que não vai fazer igual eu, né? Porque imagina. Né? Ele tem o jeito dele de fazer as coisas. Ele tem a forma dele de fazer as coisas. A tia tem a forma dela, a avó tem a forma dela, né? A minha mãe, por exemplo, a Isa, participando do próprio programa dela, né? A minha mãe por exemplo, ela dá almoço pro Miguel de uma forma completamente diferente de mim e o meu marido também dá um almoço pra ele de forma completamente diferente e graças a Deus ainda bem que é assim né?
Anyellia Spaler
E foi exatamente assim que eu consegui o desmame noturno aqui em casa. Porque o Marcelo começou a acolher a Rebeca quando ela acordava de madrugada. E aí ele começou a acolher e chegou um momento que ela começou a pedir pra que eu colocasse ela no berço em vez de deixar no colo. Tô eu lá ninando aquela criança pesada no colo e daqui a pouco ela começou a pedir não, berço e apontava pro berço porque ela não queria mais ficar assim. Mas isso só começou porque o meu marido começou a acolher ela de madrugada e aí ela começou a aprender a dormir de outra forma. Se ele não tivesse feito isso, eu estava até hoje dando mamar de madrugada.
Silmara Luz
E pensa, né gente? Às vezes acontece da gente ficar doente. E se um dia você ficar igual a Laís que precisou fazer a cirurgia? E aí? Como é que vai ser? As crianças não vão comer? Né? Como é que vai ser? Então não é bom só pra gente. É o que eu falei. É bom pra todo mundo. É bom pro pai que vai aprender a acolher o próprio filho, quer coisa melhor do que isso? É bom pra avó, pra tia, que vai ter o momento. E é bom pra gente que a gente descansa também, né? E eu sempre falo uma coisa que eu demorei a aprender isso, eu não posso ser o mundo dele, eu tenho que ser o porto seguro. O lugar pra que ele volte, não o mundo. Ele precisa conhecer outras pessoas, conhecer outras coisas, eu não posso ser o mundo dele inteiro, né? E uma coisa que foi a a Ane que falou que ficava meio assim preocupada de ficar pedindo e tudo. Gente, pra vocês que tão ouvindo, pra quem tá aqui, enfim, alinhamento de expectativa. Gente isso é libertador. Libertador. Ai mas eu tenho medo de pedir, alinha a expectativa. O máximo que, se você falar com ela e ela falar "não" é o máximo que pode acontecer. Falou não. Está bom. Tudo bem. A gente pede de novo depois. Ou então tenta alguma outra forma, né? Ou uma babá, talvez, ou alguma outra pessoa, no caso da Ane que não tem outra pessoa, mas talvez uma babá e é importante isso com todas as pessoas, né? O óbvio precisa ser dito às vezes. Com o marido, com a rede de apoio, alinhar a expectativa, isso evita estresse, evita desentendimento, evita várias situações desagradáveis. Então a rede de apoio e a participação do pai eu acredito, não sei se concordam comigo, que é fundamental pra o retorno da mãe ao trabalho ou até mesmo pra vida da mãe como ser humano. Não só retornar ao trabalho, mas como um ser humano. E infelizmente hoje a Ane mencionou e é verdade.
Silmara Luz
Nossa sociedade não está preparada. Aconteceu um episódio comigo que eu fiquei muito, muito irada assim que nós estávamos num restaurante e o Miguel fez cocô. E eu estava almoçando, meu marido já tinha terminado e eu olhei pro meu marido e falei assim "Vai trocar a fralda dele, por favor?" e aí meu marido pegou ele, saiu, daqui a pouco ele voltou e falou "Então, só tem trocador no banheiro feminino". Gente, olha o cúmulo do absurdo. Nós estamos em 2022. Como é que se pode falar de empoderamento feminino? Como se pode falar de mães e mulheres no mercado de trabalho quando a gente vive essa realidade? Vocês já passaram por algo parecido? Já passou Di?
Dialiny Teixeira
Como se só a mãe trocasse a fralda do filho.
Silmara Luz
Não, e foi a e foi a resposta que o cara me deu, tá? O garçom ele falou assim "Não, é que geralmente isso é coisa de mulher".
Dialiny Teixeira
Ó um homem falando, né?
Silmara Luz
Exato. A Ane já passou perrengues parecidos, né Ane?
Anyellia Spaler
Já. Como eu já falei, eu moro no Rio Grande do Sul. Já passei perrengue de restaurante até que não tinha, né? Eu em Gramado, quatro graus e aquele explosão, sabe? Que vem até aqui o pescoço. E o restaurante não tinha trocador. Um trabalho que não dava nem pra fazer sozinha, né? Porque precisava ser em dupla, não tinha nem trocador e foi assim no meio do restaurante, tinha um uma mesinha com sofá, eu falei "Vai ser ali no sofá", o meu marido "Cê tá doida?" Eu falei "Eu vou fazer o que? Deixar a criança assim? Não tem como". Quatro graus e eu tirando a roupa da criança no meio do restaurante e um frio, mas é o que tem, né? Às vezes eu vou em restaurante aqui na minha cidade, né? Eu não moro em Gramado, eu moro em outra cidade. E às vezes a gente só tem no banheiro feminino e eu falo pro meu marido que ó, dependendo da situação eu consigo fazer sozinha, dependendo da situação eu não consigo e ele fica na porta, às vezes eu vou, troco, devolvo a criança e volto pra arrumar a bagunça que ficou dentro do banheiro, né? E paciência, né? A gente vai trabalhando um restaurante de cada vez, um estabelecimento de cada vez. E a gente tem que ter, né? Num nos dois banheiros, tem que ter uma área de família.
Silmara Luz
Tem, exato, banheiro família, né? Pra entrar os dois numa situação dessa, precisa dos dois juntos, né? Um segurar a perna, o outro limpar e tal, precisa, né?
Laís Contiero
Eu acho um absurdo, tem muitos restaurantes que não tem trocador, não tem, não tem mesmo. Eu já cheguei a trocar os meus filhos em pé. Foi uma única vez que eu fui no restaurante. Ele ficou em pezinho, meu marido segurando e troquei ele.
Silmara Luz
Muito bom, muito bom. Bom, o Luciano já tá querendo me expulsar gente, muito obrigada, foi maravilhoso e eu queria que vocês deixassem um recado pras mães, né? Da experiência de vocês. Di cê pode começar?
Dialiny Teixeira
Não assumam responsabilidade porque a gente não dá conta e boa sorte.
Silmara Luz
Ane.
Anyellia Spaler
Boa sorte, certamente é o melhor. Boa sorte, a maternidade é vida selvagem. E pras mães que ficam em casa, a minha dica é que incluam os bebês de vocês nas suas atividades. Vai lavar roupa? Vamos botar, vamos o neném vai ajudar a botar roupa na máquina. Vamos limpar a casa? Compra uma vassourinha pequena, bota uma vassourinha na mão da criança pra criança ir fazendo com você. Torre de aprendizagem é o melhor investimento da face da terra pra quem fica em casa. Vai cozinhar? Bota a criança ali na torre do lado, vai lavar a louça, a criança lava a louça junto. Não existe dica melhor pra quem tá pra quem fica em casa do que essa, envolva a sua criança nas suas atividades, porque isso vai fazer com que você consiga fazer as coisas.
Silmara Luz
Maravilhoso. Laís.
Laís Contiero
Mãezinhas, não se culpem e se não der conta de tudo, porque a gente não dá tudo bem, tá tudo bem. É isso aí.
Silmara Luz
Meninas, muito obrigada e bom, meu recado pra mãe é que você não esqueça que mãe também é gente. Brigada gente, beijo pra vocês. Tchau. Tchau.