É preciso falar sobre o aborto
Bom dia, queridas amigas internautas. Hoje falaremos de algo que está em alta na discussão pública nacional e internacional: o aborto. Esse tema é considerado por muitos como algo polêmico, um tabu, uma violação da alma e da vida. Para outros, é uma questão de direitos sobre o corpo da mulher. É uma questão que não envolve somente saúde pública, mas também questões como desigualdade social, violência e também sobre deixar ou ciência ou a religião influir nas decisões do Estado.
No Mulher de 40 de hoje recebemos Silmara Luz, que é coach emocional, especialista mental de saúde mental de mães no pós-parto e hipnoterapeuta e recebemos também Giulia Fiorani, bailarina, professora e produtora cultural. O objetivo de hoje é democratizar o debate e trazer pontos divergentes sobre o assunto, mas que possam acrescentar algo dentro da opinião pública.
Mas, antes de tudo, é sempre bom lembrar: o Estado é laico.
Transcrição retirada do programa Mulher de 40+ na Rádio Ponto e Vírgula.
Isabella Fortunato
Oi gente linda, tudo bom com vocês? Estamos aqui com mais um Mulher de Quarenta, vamos dizer que a mulher de quarenta mais, né? Porque, mais uma vez, é pra mulher de quarenta, pra mulher de cinquenta, pra mulher de sessenta, por que não? Pras mulheres trinta também, né? Que vão chegar aos quarenta e vão ver o tanto que é bom você ligar aquele foda-se pra sociedade, aquele foda-se pra todo mundo e falar, cara eu sou foda, né? Hoje vamos tratar de um tema bastante polêmico, muito polêmico, muito polêmico, muito tem se falado essa semana sobre isso.
E eu trouxe uma convidada maravilhosa pra gente contrapor os pontos de vista aí, eu sabia que ela tinha uma ideia muito oposta a minha e eu queria muito debater esse tema porque eu acho que a gente precisa ver vários pontos de vista, ouvir vários pontos de vista, mas principalmente a gente não deve se calar, né? Em relação a ao assunto, ele deve ser tratado, não interessa se as pessoas estão concordando, se elas não estão concordando, mas o tema deve ser tratado, ele deve ser falado pra que ele deixe de ser tabu. Então, temos aqui a Silmara Luz, oi Sil.
Silmara Luz
Oi, tudo bom? Boa tarde.
Isabella Fortunato
Tudo bom? Se apresenta aí pra galera, fala dos teus trabalhos, fala de tudo.
Silmara Luz
Bom, meu nome é Silmara Luz, eu sou coach emocional e especialista na saúde mental de mães no pós-parto e eu também sou hipnoterapeuta.
Isabella Fortunato
Perfeito gente, podia ter uma mulher melhor pra vir aqui falar sobre aborto com a gente? Não podia, né? Não podia, você já deve ter ouvido de tudo, né Simara? Lidado com um pouco de tudo, né?
Silmara Luz
Sim, sim, sim. Já um pouco de tudo.
Isabella Fortunato
Me conta um pouco do seu trabalho. Como é que é? Como é que é o seu, como é que funciona?
Silmara Luz
Eu atuo com mães geralmente naquele período ali pós-parto quando os bebês chegam, que tem os níveis de hormônio todos bagunçados, que as mães ficam com aquela sobrecarga, principalmente as mães de primeira viagem, mas isso também atinge atinge as outras mães, né? As mães de segunda, terceira, enfim, cada gestação é uma gestação diferente e cada filho é um filho diferente, cada filho tem o seu próprio horário, tem a sua própria demanda, muitas vezes quando você tá ali no segundo filho, o primeiro filho ele regride um pouco, enfim.
E uma coisa que eu sentia muita falta quando eu me tornei mãe era de uma rede de apoio pra mães. Porque quando você se torna mãe parece que você fala um dialeto próprio. Ninguém consegue entender o que você sente. E quando você se torna mãe você é muito bombardeada de informações, sempre pra cuidar melhor do filho, mas ninguém se preocupa de fato com o cuidar da mãe, então isso pra mim sempre foi uma dor e aí eu comecei a estudar para apurar a minha própria dor e acabei gostando, me apaixonando, ajudando outras mães, amigas minhas e aí fui transformando isso numa profissão.
Isabella Fortunato
Que legal, maravilhosa. Gente, tá aí nas na tela, @eusilmaraluz é o arroba da Sil, vocês podem ir lá seguir o trabalho maravilhoso que ela faz, porque realmente as mães tem necessidade de um carinho especial, né? Todo mundo se preocupa com o filho, o pai sai pra beber e comemorar que o filho nasceu, mas ninguém ficou com aquela mãe que está ali né num momento completamente novo da vida dela. Maravilhoso Sil, maravilhoso. Mas vamos lá, vamos falar do nosso assunto.
Eu descobri que a Silmara tinha uma certa visão sobre aborto porque eu perguntei pra ela, ela tava com uma caixinha aberta. E eu perguntei, eu falei, Sil, o que você acha das mulheres que não querem ter filhos? A gente já viu um programa aqui sobre mulheres que não querem ter filhos e ela falou "Cada um sabe de si, mas isso não quer dizer que eu seja a favor do aborto". Então, uma coisa é você optar por não ser mãe e não ser mãe, não engravidar. Né? Uhum. Outra coisa é você optar por não ser mãe "tirando a vida de uma criança". Conta pra gente o que você pensa sobre isso. Como é que vem, de onde vem sua ideia, suas posturas e etc?
Silmara Luz
É, eu sou, eu fui criada dentro da igreja católica, porém nem sempre eu fui católica. Teve um momento da minha vida em que eu fui adventista. E tanto na ceita adventista quanto na religião católica, acredito que todas as religiões cristãs elas têm um forte posicionamento em relação ao aborto. Porém, tudo bem, a minha base vem daí mas não é só daí né? Porque também a igreja é a contra os contraceptivos e eu não sou. Então não é daí que vem a minha ideia. A minha ideia de ser contra o aborto é de ser contra a vida.
Porque eu sou a favor da vida. Eu hoje resgato mães, eu vejo o quanto mães que tiveram abortos sofrem por isso depois, o quanto de consequência da carga psicológica acontece depois mais cedo ou mais tarde porque é um procedimento traumático pras mães, né? Eu tive uma irmã que sofreu um aborto e, aliás, ela sofreu dois abortos e é um procedimento muito traumático, principalmente pós que precisa fazer a curetagem e tudo mais. É um um procedimento perigosíssimo também. Então não só a questão da vida do bebê que também é uma coisa que me importa muito.
Mas também a questão da vida da mulher, né? É um procedimento perigoso. O corpo da mulher ele tá ali cheio de hormônios, o corpo da mulher ele se prepara de uma forma diferente quando ela tá grávida e tirar esse bebê assim de uma hora pra outra traz sim muitos danos não só pra saúde física mas principalmente pra saúde emocional dela. Além do que eu também tenho a questão de me importar com o bebê. Eu fui uma pessoa que demorei muito pra engravidar. Eu tentei por muito tempo e eu demorei muito pra engravidar e eu sei o quanto dói você querer ter um filho e não conseguir ter um filho. E pensar que uma pessoa tem essa possibilidade e matar essa criança pra mim me dói muito né? Eu entendo que muitas pessoas, tem situações de situações né? Como é o caso dos estupros, dos abusos ou até mesmo caso de extrema pobreza, eu super entendo.
Mas acredito que se for pensado direito, se for conversado, se for encontrada uma família pra essa criança, que seria muito melhor ela ser amada por uma família que não pode ter uma criança do que ela não ter oportunidade de viver. Então é daí que eu tiro as minhas ideias. Das mães que eu acompanho, do sentimento que eu já tive e da própria ciência, porque é um risco sim pra saúde da mulher também.
Isabella Fortunato
Então já vamos entrar então no assunto que está sendo super abordado aí essa semana, eu não sei se você ouviu essa história que é a história da Clara Castanho. Então gente, basicamente a Castanho, ela sofreu um estupro, né? Uma relação não consensual, engravidou dessa relação e deu a criança pra adoção. Então no caso ô Sil você é a favor do que ela fez, porque muita gente criticou essa atitude dela de ter levado a gravidez e de ter largado essa criança, ter jogado essa criança pra fora.
Silmara Luz
Eu sou super a favor da atitude dela, eu acho que ela fez de todas as opções que ela tinha, ela fez a melhor. Eu costumo dizer que as coisas acontecem na nossa vida e nós que damos o significado pra ela. Como é que isso vai impactar a tua vida? Será que pra justificar um erro que não foi teu você vai cometer um outro erro ou você vai dar uma oportunidade pra essa criança? Então eu sou super a favor do que ela fez, eu acho que foi a escolha mais sensata. Eu imagino que não tenha sido fácil pra ela levar uma gravidez fruto de uma violência, mas eu acredito que foi a escolha mais sensata, porque se ela não se sentia capaz de amar aquela criança, ela deu oportunidade de alguém amar, porque no fim das contas a culpa não foi dela e nem da criança, o verdadeiro culpado que na verdade deveria ter pagado por isso foi o que menos sofreu, né? Então a minha opinião é que ela teve a escolha mais sensata sim.
Isabella Fortunato
Ah, então não é uma questão, é uma questão de matar uma vida, não é uma questão de ah você cometer um erro porque eu, eu pelo menos penso assim, eu acho que a gente não deve ser punido por erros que a gente comete e às vezes a gente engravida por um erro ou por um descuido ou por algo que não funcionou e eu não acho muito justo a gente ter que levar uma gravidez adiante por causa disso sabe?
Não tem como pra mim. O feto com menos de três meses assim, ainda não formado, ele não é pra mim, ele não é um ser humano ainda. Eu fico pensando nas pessoas que não acreditam que o feto ainda é uma vida, né? Então por isso que eu sou, eu sou a favor do aborto, eu sou a favor da pessoa, da mulher, fazer o que ela quiser com o corpo dela, e não pagar. O que eu acho que aquela criança vai pagar pra sempre pelo erro que a mãe cometeu, sabe? E eu acho que é muito é um castigo muito muito pesado você ter que amar essa criança, você ter que né? Levar essa criança, cuidar dessa criança por um erro que você cometeu, por algo que você não queria fazer.
Sou a favor assim da pessoa tirar a criança. Mas aí o que que você acha disso? Uma pessoa que cometeu um erro. Que que você acha que ela deveria cometer um erro e engravidou? Cometeu um vacilo e engravidou. Você acha que ela deve continuar mesmo assim a gravidez a adiante e cuidar dessa criança?
Silmara Luz
Eu acho que sim, porque eu fui uma gravidez indesejada. Se eu dissesse que não eu estaria dizendo não à minha própria vida. A minha mãe não queria ter filhos. No momento que minha mãe engravidou de mim ela não tinha condições financeiras alguma. Ela morava de aluguel, meu pai não tinha emprego. Então não havia condições financeiras de me trazer ao mundo, só que ela me deu oportunidade de viver. Ela me deu oportunidade de fazer a diferença da minha forma, né? No mundo. Então, eu, por ser cristã, eu acredito que Deus não tem tempo de fazer pessoas pela metade. Todos os seres humanos que ele cria têm um propósito na vida e não acredito que nós podemos, nós temos o direito de tirar uma vida, porque eu acredito na vida a partir da concepção, a partir do que o do momento em que o óvulo se junta com espermatozóide e eu já acredito que ali existe vida.
Então eu acredito que nós não temos esse direito de tirar uma vida. Concordo com você na questão do é um fardo muito pesado né? Você amar algo que você não queria. Mas volto à questão: se você não se acha capaz de amar, eu não julgo isso, não julgo porque eu atendo mulheres hoje que não são capazes de amar os filhos. Elas cuidam, criam, são excelentes mães, mas não são capazes de amar os filhos por traumas que elas tiveram na infância. E não julgo, porque isso é uma síndrome, isso se chama psicose puerperal, existe isso, até mesmo quando você planeja o filho. Quando o filho nasce, você não consegue amar. Existe isso. É uma doença. Então isso pode acontecer até com uma gravidez planejada. Não somente com uma gravidez indesejada. E eu acredito que se você se sente incapaz de amar o seu filho, duas coisas: que você procure um tratamento não por por conta de você amar ou não amar o filho, mas porque isso é um distúrbio.
E que se, mesmo assim, você se acha incapaz encontre uma família pra ele porque com certeza você vai achar. Existem existe sites, existe uma rede muito grande de mulheres que desejam adotar crianças, inclusive eu faço parte dessa rede porque eu tenho o desejo de de adotar uma criança ainda, de poder dar essa oportunidade pra uma criança, porque também seria muito, muita hipocrisia da minha parte, falar tudo isso e falar, não, não quero adotar uma criança, né?
E sim, eu tenho esse desejo de de adotar uma criança e existe uma rede muito grande de mulheres que estão na fila esperando. Existe uma fila imensa. Eu tenho uma amiga que eu conheci nessa rede que ela ficou cinco anos esperando uma filha. E ela dizia, a gestação você espera nove meses e você sabe que seu filho vai chegar. Aqui você nunca sabe quando ele vai chegar. Então existe uma fila, existem muitas pessoas querendo, muitas pessoas, existem pessoas querendo meninos, não tem mais aquela de ser menina, de olho azul, até três meses de idade, então tem famílias desejosas dessa criança.
Então eu acho que ela tem a oportunidade de ser muito feliz, né? E existe essa rede mesmo de mulheres que querem e não conseguem. Então procurar essa rede se você não se sente capaz de amar está tudo bem. Ninguém é obrigada a nada. Ninguém é obrigada a sentir nada. Mas procurar sim essa rede e fazer tudo de forma legal. Eu eu concordo, eu acredito e eu valido muito isso.
Isabella Fortunato
Tá. Aqui a Márcia Velasco tá perguntando. "Na hora do parto com toda dor é liberado na hora do nascimento serotonina e por isso a mãe ama apesar da dor, tô certa?".
Silmara Luz
Sim, tá certa, porém essas mulheres que sofrem com essa psicose puerperal, a gente tem algo no cérebro que se chama corpo caloso. Por traumas da nossa infância, muitas vezes esse corpo caloso ele fica deformado. E aí a serotonina liberada na hora do parto e da amamentação, que na amamentação a gente ocitocina também, não só serotonina não são suficientes pra te fazer conectar com a criança. E aí por isso que acontece isso. O nosso cérebro ele sempre tenta nos proteger. E ele sempre encontra alguma forma de te proteger, seja escondendo suas memórias, então às vezes algo que te aconteceu muito traumático você não vai lembrar e muitas vezes ele também encontra culpados pra te proteger e quando você se vê ali naquele momento de extrema dor, de problemas no seu casamento que às vezes acontece com a chegada do filho, de problemas na sua saúde, o seu cérebro aponta pro bebê. O bebê é o culpado de tudo que você está passando. Então isso também impede a conexão da mãe com o bebê. E é algo muito normal. Não é algo assim ai acontece um em um milhão. Não. Acontece muito. Muitas mães sofrem com isso. Mas é pouco divulgado. Mas muitas mães passam por isso.
Isabella Fortunato
Nossa. É engraçado você ter dito, né? Que você foi uma criança indesejada, eu já tenho uma outra visão de mundo assim, eu também fui uma criança indesejada, né? E o meu pai pagou pra minha mãe abortar, minha mãe não quis abortar. Mas eu me tornei uma pessoa depressiva por causa disso, né? Eu cresci com essa quase que uma ameaça, né? Uma coisa que fica rondando a sua cabeça o tempo inteiro de saber que você não foi desejada, que os seus pais repetirem aquilo várias vezes, então talvez por isso eu tenha desenvolvido essa outra visão, né? Talvez se minha mãe tivesse tido uma cabeça um pouquinho aberta e tivesse abortado, talvez ela estivesse um pouco mais feliz e eu talvez, como eu acredito em encarnação, tivesse encarnado em outra família e talvez tivesse uma vida um pouco mais feliz e menos depressiva. Por outro lado não seria eu né? Seria outra pessoa, né?
Silmara Luz
Uhum. Não seria você com os seus propósitos, né? Com a sua forma de mudar o mundo, que todo mundo tem a sua própria forma de mudar o mundo.
Isabella Fortunato
Aí cê tem total razão nesse sentido. Me diz uma coisa, o que que você acha das pessoas que não tem a mesma crença que você? Em matéria religiosa? Pessoas que por exemplo não tem a mesma crença que você em relação se a vida começa na concepção e tudo mais. Você por exemplo ajudaria uma amiga que decidiu fazer um aborto, uma grande amiga, que decidiu fazer um aborto, você ajudaria ela na decisão dela?
Silmara Luz
Eu diria pra ela dar o bebê pra mim.
Isabella Fortunato
Diria pra levar adiante a gravidez e dar um bebê pra você?
Silmara Luz
Sim. Eu iria me comprometer a cuidar dele.
Isabella Fortunato
Você não acha isso muito violento porque eu, eu vejo, eu Isabela né? Eu nunca engravidei, não tenho intenção de engravidar e eu vejo a gravidez, engraçado que eu nunca tive vontade de engravidar, eu nunca me vi grávida, nunca, nem pequena, sabe? Quando se pensa em casar, adolescente. Eu nunca me vi grávida. Não que eu nunca tenha me visto mãe, mas eu nunca me vi grávida. E daí eu te pergunto. Será que a gravidez, levar a gravidez adiante não é tão violento quanto fazer o aborto em matéria de trauma corporal, psicológico, você não acha que é também pode ser uma certa violência pra algumas pessoas?
Silmara Luz
Em questões psicológicas talvez por conta do não querer, né? Dá pra fazer um trabalho com essa mulher de forma, isso falando como hipnoterapeuta, tá? Existe uma forma de fazer um trabalho com essa mulher de forma que ela não se conecte, que ela não se sinta grávida, apesar do corpo dela estar grávido, então tem, existe uma forma de fazer um trabalho com ela que ela não se conecte. Em questões de saúde, a quantidade de hormônio que a gente produz enquanto grávida te gera um bem-estar, é claro que existem mulheres que enjoam muito nos primeiros meses que foi o meu caso, mas a quantidade de hormônios que você gera durante a gravidez ele te gera um bem-estar, ele te faz bem até pra pele e é engraçado que o seu cabelo fica diferente, a sua pele fica diferente, tudo fica diferente.
Então, em questões médicas, falando de questões médicas, é muito melhor você levar uma gravidez até o fim do que você abortar. Até comparando com a cesárea mesmo, né. A cesárea ela tira o neném antes do seu corpo estar pronto pra tirar o neném e eu fui uma mulher que fiz cesária. A recuperação da cesárea é muito mais longa do que a recuperação dum parto normal, por quê? Porque o corpo não estava pronto pra tirar o bebê dali, ainda. Então, a sua oscilação hormonal fica muito maior. Então, por exemplo, você estava num nível hormonal que mantinha seu cabelo, sua unha, a sua pele de um jeito e aí ela cai com tudo de repente.
Então você começa a ter uma queda de cabelo, uma queda de humor. Pode sim acontecer. É muito mais provável que você tenha uma depressão pós-parto por conta dessa queda hormonal. Então eu conheço mulheres que tiveram abortos espontâneos que foi algo muito traumático por conta dessas oscilações, né? Eu tenho a minha cunhada que teve dois, a minha irmã que teve dois, que todos foram espontâneos e essa oscilação faz muito mais mal do que levar a gravidez até o fim. Isso falando em questões hormonais. A questão emocional pode ser que sim por conta da conexão, mas há formas falando do seu subconsciente, de usar o seu subconsciente a favor de você não se conectar, então mesmo você estando grávida você não se sente grávida.
Isabella Fortunato
Não sabia que isso existia, não sabia.
Silmara Luz
Sim. O seu subconsciente ele é capaz de fazer qualquer coisa. Existe um estudo feito com pessoas que estavam condenadas à morte nos Estados Unidos. Um homem ele foi amarrado, foi vendado e colocaram um balde do lado dele e um soro gotejando e falaram pra ele que era o pulso dele e ele morreu. E não tinha acontecido nada. Ele morreu porque ele imaginou que fosse o pulso dele que estava aberto e gotejando. Então o nosso cérebro ele é capaz de fazer coisas impressionantes, impressionantes.
Nós somos capazes de ressignificar coisas que já vivemos no passado por conta da concentração da hipnoterapia do cérebro. Isso foi uma coisa que eu precisei curar também apesar de que eu vi um comentário. Eu fui uma gravidez indesejada no momento, mas minha mãe, minha mãe nunca, nunca se arrependeu e depois ela passou a me amar, mas eu senti isso dentro da barriga, né? Então eu fiz uma uma ressignificação desse sentimento. E é possível sim você ressignificar tudo que você já viveu através do poder da mente. O poder da mente é maravilhoso.
Isabella Fortunato
Então você ressignificou isso ao longo da vida né? Você soube dessa história e provavelmente você se tornou uma uma pessoa com determinadas atitudes por causa disso e aí ao longo da vida você foi ressignificando isso pra poder lidar. Que legal, muito legal isso, maravilhoso isso. Eu sabia, sabia do estudo do do do cara gotejando do preso, sabia? Mas não sabia que isso era o trabalho de hipnoterapia, assim, um trabalho de hipnoterapia podia chegar ao subconsciente dessa maneira tão forte, muito legal disso. Legal. Eu queria te perguntar mais uma coisa sobre aborto. Você falou sobre que você talvez né, tem situações que você... não digo que aceitaria mas tem situações e situações. E você falou em situações de extrema pobreza. Conta mais um pouquinho sobre isso.
Silmara Luz
É, eu eu sei que existem famílias que não tem condições alguma de ter criança, né? E no passado a gente via muito, talvez nossos pais, nossos avós passarem dificuldades tremendas por conta que não existia tão fácil acesso a métodos contraceptivos, e é por isso que eu sou a favor do uso de métodos contraceptivos porque se não há, não há feto, não, não gera problemas. Mas casos de extrema pobreza, eu acredito que é ruim pra criança, não só em questões emocionais, mas principalmente em questões de saúde, né? Ela pode ser negligenciada de diversas formas. E eu como mãe, não há nada que me fere mais do que não poder dar algo ao meu filho. Então eu acho que isso é muito complicado. Então por isso que eu acredito no planejamento familiar com base em contraceptivo sim.
Isabella Fortunato
Então você acha que o algum programa por exemplo governamental público que desse assistência a essas famílias em matéria de fornecimento de anticoncepcional, palestras, conscientização, isso tudo poderia até mudar uma realidade de um país inteiro, né? Porque a gente não teria a necessidade do aborto.
Silmara Luz
Exatamente.
Isabella Fortunato
E que na verdade não é uma coisa de acesso e fácil acesso pra população pobre na verdade não é, não é. É uma coisa cara, é uma coisa, né? De difícil acesso, mas poderia ser completamente diferente, a realidade do nosso país, da nossa sociedade se tivesse, né? Algum tipo de programa governamental nesse sentido, real, né?
Silmara Luz
Sim, porque eu vejo, eu não sei como é que é aí no Rio, mas aqui em São Paulo por exemplo em todas as estações de metrô existem quilos e quilos de camisinha que você pode pegar e tudo e aí eles falam assim "Ah mas existe contraceptivos" mas as pessoas sabem usar? "Ai, mas é uma camisinha" tá, mas às vezes o óbvio precisa ser dito. Elas sabem usar? Elas sabem da importância de usar? Então o óbvio precisa ser dito porque não é todo mundo que tem acesso a essas informações, né? Então eu acredito que a conscientização é muito importante, é muito importante. Porque sim, muitas vezes a menina vai ficar grávida lá e ela tem uma crença de não abortar e ela se vê presa nisso de tipo "OK e agora o que que eu faço?". Mas se tivesse né, tido um planejamento ou algo antes disso não precisava passar por isso tudo né? Por um trauma por tudo isso.
Isabella Fortunato
A gente podia fazer um trabalho nesse sentido, né? A gente podia se juntar pra fazer alguma coisa nesse sentido. Eu acho que seria maravilhoso. Tem palestra no SUS, é o que a Márcia tá dizendo, tem palestra no SUS.
Silmara Luz
Tem, tem mesmo, só que é muito difícil de você conseguir uma vaga. É quase impossível. pelo menos aqui em São Paulo, tá? Eu tô dizendo daqui de São Paulo. É quase impossível e assim, a gente vê, eu vejo quando eu vou levar meu filho pra tomar a vacina, a gente vê que tem as palestras lá disponíveis, mas tipo, tem pouca informação e ninguém dá data, ninguém dá dados e de fato quando é que vai acontecer, quando você vê, já foi e é muito pobre assim nesse sentido de informação. E aí também as pessoas não são incentivadas a ir e aí gera tudo isso.
Isabella Fortunato
As escolas também, né? Não tem um incentivo muito grande nesse sentido, então é uma é uma roda aquela roda do rato, sabe? Você fica correndo atrás do próprio rabo, né?
Silmara Luz
É exatamente, exatamente.
Isabella Fortunato
Vem cá. E a sua ideia em relação a estupro? Aborto como consequência de estupro.
Silmara Luz
Estupro é algo muito muito complicado de se dizer, né? Mas ainda assim eu sou contra o o aborto. Por quê? Porque eu acredito que o trauma do estupro ele não vai sair da cabeça da pessoa com o aborto. Eu acho que ali ela vai empilhar traumas na verdade né? Então ela vai ter o trauma do abuso sexual que é um é um trauma assim, é um trauma que realmente você leva pra vida né. Já atendi pessoas que foram abusadas na infância. Então eu sei o quanto isso impacta na vida de uma pessoa, é um trauma absurdo assim, que fere vários pilares da sua vida e ainda ter o trauma do aborto, porque muitas vezes aquela mulher ela não teria nada contra uma gestação. Mas daí ela se vê ali gestando, ela se vê fazendo um aborto e ela se vê com toda a carga emocional que um aborto traz também. Então eu acredito que você tá empilhando cargas emocionais, né? Então o aborto nesse caso na minha opinião não vai te tirar o trauma que você já sofreu.
Não é algo que vai apagar da sua cabeça. Então eu acredito em tratamento emocional pra essa mulher imediatamente, a partir do momento que ela e também eu acredito que isso deveria ser algo assim algo liberado pela justiça, algo gratuito pra essa mulher que sofreu esse abuso, entrar com um tratamento psicológico imediatamente. E ela ser completamente amparada pra que ela tenha condições de levar essa gravidez. Também não adianta eu falar assim, "Ah não, ela tem que levar a gravidez até o final" e eu não dar suporte nenhum pra ela. Então eu acho que isso deveria ser algo tipo assim, até imposto por uma lei, tipo Maria da Penha ou a Delegacia da Mulher, não sei.
Que ela deveria receber auxílio emocional imediatamente pra curar aquilo antes que aconteça coisas piores na vida dela e ela deveria receber sim também uma assistência médica pra ela ter condições de levar a gravidez até o final e aí assim ela poder entregar a criança, né? Não adianta a gente ser hipócrita e falar assim, não, ela tem que levar a gravidez até o final e pronto. Sendo que ela não tem apoio, ela não vai ter condição nenhuma de fazer um pré-natal. Não vai ter condições, ela não vai ter psicológico pra fazer isso. Mas a criança precisa do pré-natal, então eu sou a favor desde que ela tenha um acompanhamento muito sério e muito de perto. Tanto médico quanto psicológico, porque nesse caso eu acredito que o aborto só vai empilhar mais um trauma nela desnecessário.
Isabella Fortunato
Entendo, entendi. Eu nunca tinha visto um ponto de vista desse gênero. Fico feliz, muito feliz dessa conversa porque até eu penso, né? Eu tenho uma ideia e não é uma conversa que vai mudar, mas o que eu queria era exatamente isso, ouvir um outro ponto de vista pra eu poder aprender sobre o assunto, pra eu poder aprender sobre o porquê que as pessoas né, não são a favor, porque que elas têm esse posicionamento. Principalmente eu gostei muito do fato de não ser um posicionamento meramente religioso. Eu acho que a gente precisa conversar as coisas de maneira racional e não levar sempre pro lado da crença religiosa. Até porque nem todos temos a mesma crença religiosa, né? Agora uma coisa do que eu gostaria de dizer é que muita gente diz o seguinte, vamos supor, legalizou o aborto no Brasil, ah todo mundo vai usar como anticoncepcional, o que não é verdade. Opa, temos uma convidada nova pra falar sobre isso.
Giulia Fiorani
Olá, tudo bem?
Isabella Fortunato
Oi, amor. Olha, gente, tem mais gente pra conversar hoje com a gente.
Luciano Fiorani
Seu pedido, Isa, Giulia Fiorani.
Isabella Fortunato
Júlia, fala pra gente, cê ouviu nossa conversa, o que você acha sobre o assunto? Me conta.
Giulia Fiorani
Eu não ouvi o que vocês tavam falando, entrei agora, estou sabendo que cês tão falando sobre o aborto,
Isabella Fortunato
E o que que você acha sobre o assunto? Me me dá seu ponto de vista?
Giulia Fiorani
Nossa assim já é um assunto muito polêmico
Isabella Fortunato
Primeiro se apresenta então pronto pra quebrar um pouco o gelo. Se apresenta primeiro quantos anos tem, o que que você faz? Conta aí pra gente.
Giulia Fiorani
Eu sou Giulia, eu tenho vinte e sete anos, eu sou bailarina, professora, produtora cultural. E tô aí nas andanças da da cultura carioca.
Isabella Fortunato
Maravilhosa, maravilhosa. Então, deixa eu resumir o que que a gente tá fazendo aqui. A Sil ela é contra o aborto e ela está colocando o ponto de vista dela em relação a o porquê que ela é contra o aborto. Que situações ela é contra o aborto e quais são as alternativas que você pode ter para não efetuar um aborto.
Luciano Fiorani
Uma coisa importante você pode abordar, já abordando e participando desse programa lindo é que as duas tem o princípio cristão, mas têm posicionamentos diferentes. isso pode ser bacana.
Isabella Fortunato
Isso é muito legal, isso é muito legal. Fala Giulia, você é cristã, você segue a religião cristã e o seu posicionamento tem a ver com a sua crença religiosa?
Giulia Fiorani
Ah, eu acho que quando a gente tem alguma fé, né, em alguma coisa, seja lá qual ela seja, tudo que você faz tem a ver com isso de alguma maneira né com tudo que você acredita, do que você faz, enfim, eu sou a favor da legalização do aborto por questões de saúde pública, de saúde da mulher, de asseguramento das políticas públicas pra mulher, da saúde pública, e do direito da mulher que já existe continuar vivendo, né? É esse a minha a minha opinião, meu posicionamento.
Isabella Fortunato
Em que sentido uma questão de saúde pública? A gente estava falando exatamente aqui sobre questão de aborto por exemplo pra pessoas de extrema pobreza, algum tipo de ajuda governamental pública para pessoas que estão em situação de extrema pobreza poderem fazer um planejamento familiar né? Então o que que você chama, o que que você está chamando aí de questão de saúde pública?
Giulia Fiorani
Bom, eu acho que tem uma questão que é... a primeira grande questão eu acho da legalização do aborto é uma questão, e acho que a gente precisa desmistificar que é "Ah se a gente legalizar o aborto todo mundo vai abortar".
Isabella Fortunato
Eu tinha acabado de falar sobre isso quando você entrou. Vai virar anticoncepcional, né?
Giulia Fiorani
É, como se fosse uma coisa muito simples, né? A gente vai legalizar. É quase como a questão da maconha, né? Ah, vai legalizar a maconha, então todo mundo vai fumar maconha. Como se já não fumassem, né? A questão é exatamente essa. A minha questão é a seguinte, quem aborta vai continuar abortando, se legalizar ou se não legalizar. Esses números dessas pessoas específicas da sociedade elas vão continuar abortando, legalizando ou não legalizando. E isso acontece em todas as camadas, né? Nas camadas ricas e nas camadas pobres da sociedade. Qual é o ponto? O ponto é quem morre. É o pobre, as mulheres pobres é que morrem fazendo o aborto. Então a minha questão de saúde pública é exatamente essa, quem faz o aborto não vai deixar de fazer o aborto. Né? E se essas pessoas não deixam de fazer o aborto, tem que assegurar. Que quem morre não morra. A minha questão, minha posição política é exatamente essa. O Estado tem que assegurar saúde, liberdade, educação, né? Igualmente. Então a minha questão de saúde é somente essa, de que quem morre não morra mais porque quem não morre abortando, não morre porque tem dinheiro, né? Fazendo ilegalmente, essa é a grande questão, né?
Isabella Fortunato
O que eu acho que a Sil tava falando depois cê me corrija se eu estiver errada, se eu não tiver entendido seu ponto de vista. É que a gente precisaria de ter formas de a mulher não chegar a ter que abortar. Não é isso Sil?
Silmara Luz
É isso, é isso.
Isabella Fortunato
É tipo de ela não chegar ao ponto, ela ter uma forma de fazer um planejamento familiar antes de engravidar, antes de pensar em engravidar e não ter que passar pela situação do aborto. E que se ela passar pela situação do aborto que não efetive o aborto mas que entregue a criança.
Silmara Luz
Sim. É exatamente isso. Mesmo porque como eu já tinha dito antes o aborto é algo traumático até pra quem tá fazendo ali ilegalmente, ele é algo que traz uma carga emocional absurda. Mesmo pra quem não se arrepende e está tudo bem não se arrepender. Eu não estou aqui pra julgar ninguém. Mas até pra quem não se arrepende, pra quem de fato quer abortar e fim, ele traz uma carga emocional por conta dos hormônios, né? Isso é científico mesmo, os hormônios eles oscilam demais, então você tá ali conforme a sua gestação vai evoluindo, os seus hormônios eles vão aumentando progressivamente.
Até quando você faz o exame do o exame de sangue, né? Pra saber se é se você tá grávida ou não, você vê que a cada semana, aquele hormônio, ele evolui progressivamente. E aí quando a criança, quando você perde a criança, seja porque você quer ou seja porque aconteceu um aborto espontâneo, esse número do hormônio ele sofre uma queda gigantesca. Então existe sim carga, é uma carga emocional muito pesada. Existe uma questão do corpo também, né? Porque o nosso corpo ele muda completamente, né? O útero se prepara, os órgãos dão espaço pro útero crescer, então é como se você como se tivesse arrancado algo que não deveria ter sido arrancado do corpo e isso falando do do físico mesmo, né?
E isso gera um trauma muito grande, então o meu ponto de ser contra é esse, mas não ser contra tipo "Sou contra e pronto, acabou." Tá OK, e aí? Então tá bom, já eu acho que todos os pontos de vista deveriam ser assim pelo menos, infelizmente não é, né? É muito fácil a gente tacar pedra nos outros e não ajudar, né? Ah, tá bom, ela não deveria ter feito aquilo, tá bom. Então, o que que ela deveria ter feito? Então dá uma solução, que que ela deveria ter feito? Então a minha questão é essa, sou contra, mas sou a favor de que haja sim uma conscientização das pessoas, que haja sim como a gente estava falando, né? De um programa que conscientize as pessoas sobre o uso de de métodos contraceptivos pra que não se chegue nesse nível. É claro que por exemplo o anticoncepcional, ele também é uma bomba de hormônios? É. Mas ele é muito menor comparado a um aborto. Não tem nem comparação. E também não existe só anticoncepcional, né? Existe DIU, existe camisinha, existe diversos outros métodos contraceptivos, isso é o que não falta, né? Método é o que não falta, mas falta conscientização.
Giulia Fiorani
Deixa só eu te interromper muito rapidinho pra falar pra quem tiver assistindo a gente ou ouvindo que é essa informação é muito preciosa. É de que no SUS eles colocam DIU. Então se você tiver procurando métodos contraceptivos, procure o SUS.
Silmara Luz
É verdade. Mas é isso que você falou, ninguém divulga. Ninguém divulga. é muito pouco divulgado, né? Infelizmente não existe conscientização, não existe educação, né? Nesse ponto pras pessoas, é muito carente esse ponto, né?
Isabella Fortunato
Giulia o que que você acha assim? Eu acho muito assim eu acho que seria o melhor dos mundos né? A gente ter uma uma política de planejamento familiar e de que diminuíssem os casos de gravidez indesejadas, mas eu acho isso um pouco utópico. Que que você acha?
Giulia Fiorani
Eu acho sensacional. Acho que é tudo, tudo começa com educação. Né? Se a gente tivesse uma educação familiar e eu acho que nesse caso principalmente uma educação sexual nas escolas, né? A gente precisa disso, a gente precisa dessa educação pras crianças, né? Pra que a gente diminua os casos inclusive de estupro, né? E pra que a gente possa ter cada vez menos gravidez indesejadas por falta de conhecimentos. Que a gente sabe também que tem muitas gravidezes que que acontecem por falha, né? Enfim, acontece. Mas por falta de informação, principalmente. Eu acho que tem que ter, é essencial. Mas eu acho que a gente não precisa pensar só em uma das coisas né? É a mesma coisa por exemplo, cada um nas suas escalas, lógico né? Mas de eu pensar em políticas públicas pra gente ter mais negros em empresas por exemplo, em cargos de importância, mas abolir as cotas nas escolas e nas universidades.
Giulia Fiorani
Entende? Então não adianta eu só ter a medida emergencial e nem adianta eu só ter uma medida a longo prazo. Eu acho que a gente precisa combater com as duas coisas. O que que eu faço com essas mulheres que estão com uma gravidez indesejada agora? O que que eu faço com isso entendeu? Eu acho que a gente pode cuidar das crianças e dos adolescentes com a informação, com uma educação sexual na escola e combater essas políticas de... é que eu sou um pouco chata com isso. Assim eu acho que esse assunto ele envolve mais coisas do que só o aborto em si, né? Envolve o poder sobre a mulher, né? Sobre a gente não decidir o que a gente pode fazer com o nosso próprio corpo, e aí eh são vários âmbitos, né? Que não é só esse assunto especificamente, mas que se esbarram. Então eu acho na minha opinião eu acho que a gente tinha que combater com as duas coisas.
Isabella Fortunato
E o homem aborta facilmente, né?
Giulia Fiorani
Pois é.
Isabella Fortunato
Pro homem muito fácil abortar, né? Chefe, o que que cê quer? Quer entrar no assunto, chefe? Fala pra mim, meu patrão.
Luciano Fiorani
Tá terminando, hein? Eu só vou botar a musiquinha de fundo pra terminar, mas eu queria deixar uma pergunta pra Giulia e pra Silmara, que é o seguinte: a Silmara é contra o aborto, a Giulia é a favor do aborto, as duas são cristãs e a minha pergunta é, o corpo do bebê é de quem?
Silmara Luz
Pode ir primeiro Giulia.
Giulia Fiorani
O corpo do bebê é de quem? Se a se essa criança isso é uma pergunta só pra o feto que está dentro da barriga porque, depois que ela tem, ela (o corpo) é da mãe.
Luciano Fiorani
Vou reformular então. Quando você decide que vai fazer um aborto, você vai matar um corpo que é seu, cê tá cuidando do seu corpo ou de um corpo de outra pessoa.
Isabella Fortunato
Bom, ninguém me perguntou, mas eu acho que enquanto a mãe é, enquanto a criança é dependente da mãe, ela é corpo da mãe. É, o corpo o que é da mãe. É da mãe.
Giulia Fiorani
Está dentro de você.
Luciano Fiorani
Mas é você?
Silmara Luz
Posso? Eu acho é... eu que eu abri falando lá no início do programa, né? Eu com as minhas crenças, eu acredito que ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém. Então, o corpo do bebê é do bebê. Então, ele não sabe se defender ainda. Então, é dele. A oportunidade é dele. Como eu disse eu sou grata pela minha mãe ser contra o aborto também. Porque senão eu poderia não estar aqui hoje. Porque eu como eu disse fui uma gravidez indesejada. Então pra eu hoje ter a visão sobre o meu corpo um dia eu tive que ter esse direito me dado. Eu não tinha noção e eu tive que ter esse direito me dado. Esta é a minha opinião enquanto cristã. É o que eu acredito. Eu não acho que nós temos o direito sobre a vida de outra pessoa, ainda que essa pessoa esteja dentro de você. Essa é a minha opinião.
Isabella Fortunato
Respondeu?
Giulia Fiorani
Eu acho que é muito cruel essa pergunta. Mas foi essa pergunta é muito cruel porque ela está totalmente descolada do contexto social, financeiro e psicológico e emocional de qualquer gravidez indesejada.
Isabella Fortunato
O chefe pra te dizer: você é um ótimo pai porque você tem uma filha maravilhosa pelo menos isso, amém que você não tenha abortado
Luciano Fiorani
Eu sei que eu tenho uma filha maravilhosa. Tenho essa consciência. Por isso que eu botei ela em casa.
Isabella Fortunato
Por isso que você botou ela, você empurrou ela, né? Maravilhosa sua participação, maravilhosa.
Luciano Fiorani
Quero dar um pitaco aqui, esse assunto é relevantíssimo e atualíssimo. Então acho que a gente deve pensar numa divulgação maior pra esse debate e você voltar nesse debate com a Silmara, com a Giulia e com quem mais você quiser, mas eu acho que ele é um assunto atual, a gente tem o caso aí da menina de onze anos que engravidou que a gente precisava falar disso. A gente tem o caso da atriz que engravidou de fruto de um estupro, a gente precisa falar disso. E a gente tem nesse momento alguém sendo estuprado. Temos nesse momento alguém fazendo o aborto e temos nesse momento alguém resolvendo levar uma gravidez com a dor de ser uma gravidez indesejada. E temos também alguém que está morrendo nesse momento porque é pobre e que está fazendo um aborto agora. Então acho que você deve voltar com uma pauta pelo menos com esses cinco tópicos. A Rádio Ponto e Vírgula te dá mais uma hora pra esse debate porque é de interesse público e você comanda um debate aí de duas horas. Meu convite. Fica aí a dica.
Isabella Fortunato
Nossa, amei, amei o convite. Agradeço imensamente pelo convite. Agradeço imensamente a participação de vocês nesse debate mais uma vez, como eu disse no início, é o que eu acho é que a gente precisa falar sobre enquanto a gente não falar sobre é tabu. E a gente tem que desfazer esses tabus. Não interessa se a gente é contra a favor do aborto. A gente precisa falar disso, né? Então, meninas, vou dar aí uns minutinhos para vocês se despedirem do pessoal. Muito obrigada pela presença. Foi maravilhoso conversar com você. Fala. Júlia se despede aí do pessoal, gente. Obrigada, obrigada menina.
Giulia Fiorani
Gente, brigada, brigada meninas, parabéns pelo debate, pelo programa, vamos combinar esse debate que eu quero vir estudada pra falar com calma. Brigada pelo convite, brigada Rádio Ponto e Vírgula, brigada pai, um beijo e a gente se vê.
Isabella Fortunato
Beijos Sil. Se despede aí da galera.
Silmara Luz
Brigada Isa pelo convite, brigada pelo debate foi muito bom, é muito bom poder falar disso, né? Porque eu acho que infelizmente as pessoas julgam demais, eu acho que o mal do mundo é esse, é julgar demais, apontar o dedo demais e dar soluções de menos. Então, poder explicar o porquê do meu ponto de vista e trazer soluções que às vezes as pessoas não tinham pensado ainda, foi muito bom. Muito obrigada. Beijo pra vocês.
Isabella Fortunato
Maravilhoso gente. Amores, muitos beijos e a gente tá aqui quinta-feira que vem, duas horas com o Mulher de Quarenta novamente. Tchau, tchau.