Mulher que não quer ter filho
Bom dia, meu povo lindo! Mesmo hoje em dia, em que as mentes estão mais abertas e a sociedade está se modernizando, ainda é muito difícil aceitar que uma mulher não queira ter filhos. Parece um pecado, uma falha na programação primordial de nós, animais: nascer, crescer, se reproduzir e morrer. Mas bem, não somos apenas animais, somos mais que isso.
Será que as mulheres com mais de 40 perderam a tão sonhada e imposta chance de engravidar e "constituir família"? E o que uma mulher de 40 que não deseja ter filhos tem a dizer sobre essa questão?
Vou usar minha história para contar para vocês o que se passa na cabeça de uma pessoa que simplesmente não quer ter filhos e que, depois dos 40, ainda não se acha pronta para uma responsabilidade tão grande. Seria eu uma irresponsável? Ou uma hiperresponsável?
Ser mãe, para mim, significa mudar todas as prioridades e, por um bom tempo, o filho deve vir em primeiro lugar. Não significa esquecer de você, pois você, como mãe, precisa estar bem para dar conta de uma criança, mas quer dizer que todas as decisões, a partir do momento da concepção, deverão ser tomadas levando em consideração a criança, que a família tem um componente a mais e que a sua existência influencia em todas as decisões.
Meus pais, embora neguem, mesmo depois que eu nasci, continuaram levando suas vidas normalmente e eu nunca tive grande influência em suas escolhas. Se se separavam, casavam, entre si ou com outras pessoas, em que país decidissem morar, que carro comprar, nada disso pelos 16 anos em que vivi com os dois, nunca foi decidido levando em consideração a minha opinião.
Até que, com 16 anos, eles se separaram pela enésima vez e eu decidi que iria morar com o meu pai. Foi a primeira vez em que me posicionei e foi uma bagunça na família. Resta o fato que depois disso, eles não voltaram nunca mais, ou seja, além de tudo, eu ainda era moeda de troca para eles ficarem juntos.
Sempre achei isso tudo muito errado e jurei para mim mesma que jamais seria mãe dessa forma, mas que o seria quando tivesse condições de dar atenção ao meu filho e que ele fosse o centro da minha vida.
Tive duas crises de maternidade: uma aos 27, no auge do meu doutorado em Portugal, e uma aos 31, até que conversei com uma tia e ela me disse algo que mudou toda a minha vida: ninguém precisa de estabilidade financeira para ter filho, mas, quando o filho vem, as pessoas se ajustam e as coisas acontecem. Foi aí que percebi que "não tenho uma vida financeira estável'' era a grande desculpa que eu tinha para não ter filhos.
E de fato, quando a estabilidade financeira veio, eu nunca mais tive crises de querer ter filho. Até porque, eu comecei a multiempreender e o meu trabalho passou a ser (sempre foi, na verdade) o centro da minha vida, minha prioridade. Eu jamais largaria qualquer um dos meus negócios para cuidar de criança. Isso pode parecer egoísta, mas aqui vai mais uma coisa que eu ouvi e que me marcou em matéria de filhos.
Um dia uma amiga de uma amiga se casou já com quase 50 anos, eu, super católica e super mente fechada, lhe perguntei: para que casar se não vai ter filhos. E ela me respondeu: eu não sou egoísta ao ponto de ter filhos somente por ter filhos, ter filho tem que querer. Foi assim que percebi que, para a grande maioria, ter filhos era só um capricho e, consequentemente, uma atitude bem egoísta, como a mulher falou.
Nunca tinha pensado no assunto daquela forma, mas fazia todo sentido para mim. Imagina, ter um filho porque a sociedade quer que eu tenha filho, porque a sociedade acha que eu nasci mulher para me reproduzir e não para fazer a diferença no mundo de outra forma.
Vou voltar à história da minha adolescência depois que meus pais se separaram: com 17 anos, meu pai resolveu morar na Itália novamente e eu, que estava terminando o Ensino Médio, decidi que não voltaria com ele e foi assim que, depois de muita briga e discussão, meu pai se convenceu que eu era responsável o suficiente para ser emancipada e ir morar com meu namorado da época, que era bem mais velho do que eu. E era, acreditem. Eu não ia ficar à mercê das decisões precipitadas dos meus pais.
Foi aí que começou uma nova etapa da minha vida, mas eu não pensava nem de longe em me casar ou engravidar daquele cara. Só pensava em passar no vestibular em qualquer Federal do país. Passei e fui embora.
Quando estava saindo da faculdade, já estava morando com outro namorado e nada de vontade de ter filhos com ele também. No mestrado a mesma coisa, mas, uma vez solteira algo mudou: eu tive muita vontade de adotar uma menininha que conheci na Bahia. Ainda não me via grávida, mas me via adotando uma criança. Até na comunidade Mães jovens eu estava, mas nunca fui mãe, muito menos jovem!
Depois de dez anos, fui casada por 8 anos e, mais uma vez, nunca me passou na cabeça ter um filho com aquele homem, mas adotaria uma criança sozinha. Hoje, mais uma vez solteira, me passa pela cabeça que, com uns 50 anos, vou adotar alguma criança já grande, mas não me vejo engravidando, parindo muito menos trocando fralda.
Eu não posso me sentir culpada por não querer ter filhos, pois, como diz uma amiga minha, é como ter pernas e se sentir culpado por não ser um corredor ou ter braços e se sentir culpada por não ser uma artista. É uma culpa sem cabimento. Aliás, a culpa é um sentimento muito cristão para uma budista.
Sei que dou minha contribuição para o mundo e que deixarei meu legado de outras formas, que não através de uma criança que tenha meu DNA. Eu realmente tenho outras prioridades e não posso ter um filho simplesmente por ter passado dos 40 e as chances estarem diminuindo.
Mas e vocês? O que vocês acham do assunto de ter ou não ter filhos? Me conta lá no perfil. Se você quiser sugerir temas para tratarmos aqui no programa, se quiser participar do programa, não hesite, manda mensagem que vai ser um prazer te responder!