Mãe solo aos 40


 

Bom dia, queridas amigas internautas. Hoje no Mulher de 40 a entrevista é internacional! Falamos Izabela Viegas, advogada e moradora de Coimbra em Portugal. Há dois episódios falamos sobre ser casada e mãe aos 40 e quais eram seus desafios. Hoje, a situação é completamente diferente: hoje falaremos sobre ser mãe solo! Izabela é mãe solo de menina e nos fala sobre a vida, sobre relacionamentos e sobre como levar a vida de mãe solo com mais leveza. 


  • Transcrição retirada do programa Mulher de 40+ na Rádio Ponto e Vírgula.



Isabella Fortunato

Oi gente, eu caí mas já voltei porque depois dos quarenta é assim, a gente cai, leva aquele belo tombo dá com a cara no no asfalto e volta, volta que nem uma fênix. Essa é a ideia do Mulher de Quarenta que não é só mulher de quarenta, é mulher de quarenta mais. Mulher de quarenta, mulher de cinquenta, mulher de sessenta.


Depois dos quarenta dá aquele clique a gente liga aquele foda-se e fala é isso mesmo hoje eu estou ó com a minha camisa "fala que eu sou gata" porque a gente é assim a gente pede pra falar logo, pede pra falar, fala que eu sou gata mesmo e é assim, não tem mimimi depois dos quarenta e hoje eu tô com uma convidada muito, muito, muito especial, a gente vai falar de um tema muito legal que é ser mãe solo aos quarenta. Gente, a gente trouxe a Vivian na outra que e que foi mãe tanto adotiva como mãe, teve filho mesmo, aliás a filha dela nasceu hoje e hoje a gente está aqui com a Izabela. A Izabela é minha xará maravilhosa, minha amiga maravilhosa.


Izabela Viegas

Oi.


Isabella Fortunato

Oi linda, muito fofa. E que saudade, morrendo de saudade. A Izabela tem o único defeito. Qual é, Izabela?


Izabela Viegas

Eu moro em Portugal.


Isabella Fortunato

Único defeito, mas isso faz dela muito mais guerreira porque ela é mãe solo, solo mesmo, a família dela mora aqui no Brasil e ela é mãe solo mesmo, então a gente vai desvendar como é que ela faz isso. Porque gente o que eu vejo é muita mãe reclamando de barriga cheia com todo um aparato e não dá conta, ah eu não dou conta, não dou conta, não dou conta e a Izabela dá conta. Vamos lá. Izabela, me diz aí, conta a sua história. Dá conta, dá sim, dá sim que a Laura é maravilhosa. Me conta aí como é que foi a sua história desde o início.


Izabela Viegas

Desde o início, do início, início, início da Laura.


Isabella Fortunato

Início da Laura, início da Laura. Início da mãe de quarenta.


Izabela Viegas

O resto dispensa né. Boa tarde então eu moro aqui em Portugal né, a Laura nasceu aqui eu tive a Laura com trinta e nove pra quarenta né? É meio clichê assim, mas é aquela situação que a vida sabia o que eu precisava antes de eu saber. Eu engravidei da Laura, ela nasceu aqui a gente vive aqui em Coimbra, agora ela já está com dois anos e meio, e quando quando eu soube que eu estava grávida, não foi um susto assim não, foi eu não achava que eu estava grávida, mas foi uma coisa tão orgânica eu nunca tive aquele sonhar e vou ser mãe, não. Mas era uma coisa que fazia parte assim. Se acontecesse, bom, bem, senão também. E acabou acontecendo. Então, apesar da Isabella não gostar de Portugal, eu levanto a mão pro céu e agradeço que foi aqui. Apesar de eu estar completamente sozinha, né? Minha família está aí no Brasil e toda a estrutura no país, o tipo de governo do país, os auxílios, o tipo de atendimento público ajudou muito, me…


Isabella Fortunato

As coisas realmente funcionam aí, né?


Izabela Viegas

É, e também eu tô numa cidade menor. Eu, é, tudo que eu falar aqui,Isabella, deixando bem claro é baseado na minha experiência né? Porque é igual você disse que tem muita mãe que reclama de barriga cheia? Não é bem assim porque ser mãe é difícil, independente do tipo de mãe, do tipo de vida que a pessoa leva, se ela está tentando criar um ser humano decente nesse mundo é difícil, é difícil ser mãe.


Mãe que teve o filho só pra enfeitar e a outra pessoa que cuida? É essa outra pessoa que tem dificuldade. É ela que é a mãe. Sabe? Então é difícil. Ser mãe é muito difícil. É muito bom, ótimo né? Senão se fosse só ruim ninguém seria. Mas é muito difícil. E pra quem encara o desafio sem outra pessoa pra ajudar, pra fazer a parte dele ou dela né? É mais complicado ainda, um pouco, é mais cansativo eu acho, é muito cansativo.


Isabella Fortunato

Um dia me falaram uma coisa que é o seguinte: a mãe dá conta da criança cem por cento. A mãe não precisa do homem pra criar a criança. E que o homem serve mais pra segurar a onda da mulher do que propriamente a onda da criança. Você concorda com isso?


Izabela Viegas

Concordo. Eu concordo muito porque eu costumo brincar que toda mãe solteira, mãe solo, eu falo que eu sou mãe e solteira. Mãe solteira, mãe solo. Precisa de uma esposa. Não de uma empregada. É se tiver isso, se tiver alguém pra lavar, passar, cozinhar, limpar a criança, vida, você consegue cuidar dele, você consegue brincar, você consegue passar tempo de qualidade, você consegue levar e buscar na escola, que é uma outra coisa que eu aprendi.


Antes eu pensava ``ah gente menino vai e volta da escola com alguém”. Não mas levar e buscar da escola é um ritual, sabe? É gostoso aquele momento ali no carro que você vai conversando ou então no autocarro no ônibus né?


Cê vai conversando e vai ouvindo as as coisas que eles vão falando assim espontaneamente. Então faz parte do ritual também. Agora uma coisa também que eu acho que é que é muito importante é a rede né? De ajuda. Se a gente tiver alguém pra ajudar e tudo realmente é… Eu costumava falar de toda mãe que precisa duma esposa não é do é alguém… de alguém vier pra ajudar a fazer as coisas mecânicas. Pode ter filho que vai ser bom demais.


Isabella Fortunato

Você já me falou né? Que se você tivesse alguém assim pra te ajudar você teria mais né? Você teria mais filhos.


Izabela Viegas

Eu teria.


Isabella Fortunato

Bom. Qual é a parte boa? Me conta.


Izabela Viegas

Ô Isabella eu vou te falar eu pago tanta eu pago uma língua por dia pelo menos. Maternidade é é tão clichê é tão clichê mas eu acho que o clichê existe por uma razão é...  O que aquela pessoinha te faz sentir? É muito bom. Terapia nenhuma consegue. sabe? Na hora que você vê ali você vê muito de você sabe? É um espelho. Você vê muito de você. Mas aí você tem uns insights e acontece umas coisas, eles têm umas umas tiradas assim. Você fala nossa, que certo. Estou feliz, sabe?


É bom todo dia na hora que ela acorda ela vem me dar um beijinho. É bom, sabe? Ela na creche teve o dia das mães então eu acho que eles a falar "mamãe eu te amo, parabéns". Aí eu nunca fui dessas pessoas de “eu te amo''. Não, minha família não tem essa coisa. “Ah eu te amo eu te amo também”. Não. E aí ela virou pra mim e falou assim "mamãe, te amo, parabéns". Eu achei muito bom. "Ô filha eu também te amo". Aí um dia eu virei pra ela e falei assim, "Ô filha a mamãe te ama". Aí ela "parabéns". Sabe o desenvolvimento na hora que você vê que aquele está desenvolvendo um outro ser, sabe? Uma pessoa, é uma pessoa, é uma pessoinha. E é muito bom ter a companhia,


Pra mim ela faz muita companhia é é bom no geral assim eu vou te falar parece que você está apaixonada e na verdade você está né? Mas assim é uma paixão, daquela que você está sempre colocando ela e o seu filho na prioridade.


Isabella Fortunato

Nossa isso isso é muito legal. faz um favor aí pra mim. Mostra ela aí. Mostra ela aí. Mostra ela. O arroba da Izabela é  @mochilinha.pt. Lá ela mostra muito de viagem…Oi Laurinha.


Izabela Viegas

A lá! Quem é essa senhora aqui?


Isabella Fortunato

Oi Laurinha.


Izabela Viegas

Está comendo uma batatinha. Não é? Vai lá pra você comer. Toma.


Isabella Fortunato

Gente, no @mochilinha.pt a Izabela ela já mostrava sua experiências pelo mundo, viajando pelo mundo, né? E agora é viajando com criança, viajando com filho, é muito legal porque ela dá várias ideias do que fazer não é? Coisa que a gente não pensa né? Tipo ter que distrair uma criança pra uma viagem de ônibus por exemplo uma hora ter que distrair a criança.


Isso, brigada patrão. @mochilinha.pt. Gente, sigam a Izabela lá, porque é muito legal. Vocês vão ter várias dicas de viagem com crianças. Isso é maravilhoso. Na Europa isso é muito comum, eu acho que é uma coisa que a gente evita, né?


Mas na Europa é muito comum viajar com criança e eu acho que é uma coisa que a gente deveria fazer mais, viajar com criança porque a vida não acaba quando a criança chega, muito pelo contrário, né? A vida começa quando a criança chega. Então @mochilinha.pt sigam, sigam a Izabela e agora eu vou te perguntar outra coisa, Izabela. Você sentiu o clique dos quarenta?


Izabela Viegas

Não como eu senti o clique dos trinta. Foi pior do que o dos quarenta.


Isabella Fortunato

Exatamente. Sempre digo isso.


Izabela Viegas

Os dos trinta foi pior do que dos quarenta. Quando eu fiz quarenta, a gente já tava na pandemia ainda estava no rescaldo da pandemia e a Laura já estava pra fazer um ano eu acho, um ano e pouquinho mas a maternidade, Isabella, dá uma confiança, dá uma segurança pra gente? Que o mundo pode acabar, sabe? A perspectiva muda demais, é muito impressionante como muda.


Porque eu ouvia as pessoas falarem eu falei é claro que muda né? Tem outra pessoa lá agora. Mas é o que eu falei. Isso vai ser um monte de clichê. Mas assim a prioridade muda mas muda assim: não é que não, agora eu não posso fazer isso porque eu tenho que fazer isso. Não.


Você já não lembra mais daquela outra coisa. Não, não é uma escolha, entendeu? Entre já é orgânico. Então eu acho que quando eu fiz quarenta eu também estava num cenário completamente diferente. Quando eu fiz trinta eu ainda estava terminando a faculdade, né? Uma faculdade complicada num outro país, estava com aquela sensação de que eu não tinha conquistado nada porque eu ainda não tinha me formado, aquela coisa né? Ainda não tinha formado, ainda não tinha casado, ainda não tinha filho, ainda não tinha nada.


Quando eu fiz quarenta, eu já tinha superado isso. Sabe? A minha vida é essa, é a vida que está acontecendo todos os dias e, meu, como eu sou grata por ela estar assim. Podia estar melhor, podia estar pior, mas do jeito que ela está, eu sou muito grata por tá assim e a Laura trouxe uma confiança muito grande, sabe? Porque você olha pra aquilo ali e fala assim, nossa, ainda bem, sabe? Pra mim não foi tão, tão, tão chocante como acho que talvez se eu tivesse se eu não tivesse filhos talvez pudesse ser mas o dos trinta foi muito pior.


Isabella Fortunato

Mas deixa eu te contar então de mulher que passou o clique dos quarenta sem filho. É um clique que é uma ligação de foda-se automática. Já tinham me dito que isso acontecia, a gente fica confiante, fica muito mais mulher do que quando a gente faz trinta. Quando a gente faz trinta parece que o mundo vai acabar. E quando a gente faz quarenta a gente está lá naquele momento no melhor momento da mulher. Você sabe, né? Tem quantos anos que você me vê fingindo idade, mentindo a minha idade? Desde que você me conheceu.


Izabela Viegas

Achei muito bom cê pular dos vinte e cinco pros quarenta.


Isabella Fortunato

Os quarenta dão essa confiança então assim não não tem crise dos quarenta, muito pelo contrário. Os quarenta dão essa confiança e aí é por isso que eu queria te perguntar: qual você acha que seria a diferença entre você ter tido a Laura aos trinta e ter tido a Laura aos quarenta?


Izabela Viegas

É assim eu vou lhe dizendo com muita sinceridade da minha da minha experiência. Se eu tivesse tido a Laura dez anos atrás a insegurança era muito maior, eu acho que as paranoias da maternidade perfeita seriam muito maiores sabe? Porque eu já já com quarenta você já sabe quem que você é. Você já sabe quem é você.


Se você não sabe cê vai pra terapia porque já está passando a hora de saber. A maior parte das mulheres de quarenta que eu conheço que têm filhos, que são sem filhos, qualquer coisa, ricas, pobres, de qualquer modo você já sabe quem é você. Por mais que você possa fingir queira ser querer ser diferente.


Uma coisa, cê já sabe, cê já sabe o que que vai te fazer bem, cê já sabe o que é que vai te fazer mal, sabe? Cê já, cê já sabe, olha, isso vale a pena insistir, isso já não vale. Então, eu acho que quando se tem um filho aos quarenta tem menos stress ou menos pressão naquele aspecto da maternidade perfeita, sabe? Porque eu eu estava quando quando a gente falou que ia ter essa conversa eu estava refletindo sobre umas coisas e eu tive um insight que assim, eu acho que grande parte dos mitos da maternidade, das receitas mágicas de maternidade acontecem hoje.


Porque foram criados por mães de vinte e de trinta. Porque a minha mãe por exemplo me teve com vinte e cinco. Né? Nós somos todos uma geração de filhos de vinte anos. De gente com vinte anos. Então elas eram muito menos seguras, muito menos estruturadas, com muito menos eram casadas, não formadas, né? O livrinho perfeito, mas emocionalmente uma bagagem muito diferente, muito menos madura do que a gente é hoje. 


Então eu acho que esses mitos e essas coisas que aparecem agora que as as mães ficam cheias de culpa foi criado por mães de vinte porque quando a gente chega nos quarenta e acontece isso aí você fala assim gente "Vou me estressar com isso"?


Isabella Fortunato

Não vou me estressar com louça na pia porque não vai valer a pena né?


Izabela Viegas

Não não e olha hoje não dá é igual hoje por exemplo, é feriado né? A gente teve uma noite complicada na casa duns amigos tudo e eu passei a madrugada praticamente acordada, cheguei aqui em casa a Laura não queria almoçar, falei, "nossa, não vou ficar come, come, come e tem que comer na hora que você tiver fome você me avisa? Aí depois ela "mãe eu quero uma banana" eu "está bom filha come banana" entende? Não é não não não vou não vou nessa, o meu filho tem que comer todos os dias a refeição saudável. Não porque isso vai te dar frustração porque ele não vai comer todos os dias a refeição saudável. Você não come, come?


Isabella Fortunato

É verdade. É verdade.


Izabela Viegas

Quando a gente começa, quando a gente tem essa maturidade emocional e eu acho que isso só acontece depois que você já viveu muita coisa na vida. Não adianta não estou falando que é errado ter filho com vinte anos não. Mas eu acho que é mais emocionalmente saudável ter mais tarde. Fisicamente não.


Isabella Fortunato

Não tem coluna mas tem experiência. Não tem lombar mas tem experiência.


Izabela Viegas

Não, você não tem lombar, você não tem joelhos. Única parte do seu corpo que está tonificada é o braço de carregar. Aqui ó, o braço da inveja.


Isabella Fortunato

Tem um muque né?


Izabela Viegas

Ó o braço. É tonificado perfeito de carregar quinze quilos pra cá quinze quilos pra lá, sacola do supermercado, menino, mochila da creche, bolsa. É assim.


Isabella Fortunato

Maravilhosa. Relembrando, @mochilinha.pt, gente. Sigam, sigam a Izabela, sigam a Laura, né? É muito legal de de tabela. É mais a Laura que a Izabela, que a Laura é quem viaja na verdade, né? Izabela só vai de de de quebra.


Izabela Viegas

Burro de carga.


Isabella Fortunato

Mas é legal isso, me sigam também gente, @isa.mulherde40. Mandem suas perguntas se você quiser participar do Isa Mulher de Quarenta, venham. E o meu Isa é com S, tá gente? O Iza da Izabela é com Z. O meu é com S. Né Iza? É o que nos distingue. Mas uma coisa que é que é legal de ver é que a Isabela ela sempre tenta levar a Laura para lugares e não deixar a vida ficar entediante pra Laura. Então ela sempre tenta levar a Laura pra lugares. Quando ela pode ela pega um ônibus e vai pra Lisboa, quando ela pode ela pega o ônibus e vai pro Porto.


Ela sempre está tentando fazer com que a Laura tenha as melhores experiências em matéria de viagem, isso eu acho fantástico porque a Laura vai viver com uma bagagem que poucas crianças tem né? O que que você por que que você faz questão disso Iza?


Izabela Viegas

Eu acho que pra criar uma criança hoje ela tem que saber o que que é diversidade, ela tem que sair duma bolha, ela não pode ficar numa bolha. Eu acho que é o que eu falo, eu tô tentando criar um ser humano decente, um ser humano empático, um ser humano confiante, seguro, então eu acho que quanto mais a gente viaja, quanto mais a gente expõe as crianças a essas diferenças à realidades diferentes da dela. Né? E às vezes podem pensar assim muito cedo e não sei o que. Gente não é. Começa na barriga. Esses menino aprendem tudo. Tudo eles absorvem tudo. Então quanto mais ela souber que tem gente boa no mundo mas também tem gente ruim no mundo que tem que a gente não é diferente que todo mundo merece oportunidades iguais né? 


As culturas são diferentes, nós temos que respeitar a individualidade de cada um. Então eu acho que isso é muito importante. E é igual a gente. A gente não aprende porque nos disseram que é. Então eu acho que quanto mais a gente expõe as diferenças, mas pra eles é normal. Não é um bicho de sete cabeças ver dois homens juntos. Ou duas mulheres juntas. Ou uma família de três pessoas, de quatro pessoas, de seis pessoas, uma família que é o pai, a mãe e o filho, uma família que é só a filha e a mãe, entende? Quanto mais expõe isso. E eu acho que viajar é a melhor forma, né, Isabella? A gente sempre, eu sempre tive essa coisa de viajar, eu cresci, viajar.


Isabella Fortunato

Eu tô me divertindo com ela, gente. É a realidade da mãe é a realidade da...


Izabela Viegas

Gente vocês não estão entendendo como… Pronto fica aí. Esse, por exemplo, é o mesmo vestido já faz uma semana. Outro eu não vou comprar. 


Isabella Fortunato

Maravilhosa. Parece vestido de fantasia. Então você ainda está no lucro. Mas olha só o que como é que você vê o futuro pra ela? Você vê o futuro pra ela?


Izabela Viegas

Eu eu parei de ver televisão pra não ficar frustrada com isso. Porque ao mesmo tempo que a gente está bem, é otimista, né? Tem tanta coisa que faz a gente pensar assim, meu Deus, como é que alguém põe uma criança nesse mundo? Né? Mas aí é o seu papel, eu espero que ela cresça saudável, feliz, vão acontecer coisas ruins mas eu vou vou tá ali pra catar os cacos e ajudar a levantar que o meu papel é esse né? Eu não posso evitar e proteger a vida inteira mas eu tenho que tá lá pra ajudar a erguer né? Que então e claro né? E ir pra família real casar com o Louis.


Isabella Fortunato

Ela tem que casar com o George.


Izabela Viegas

Não, George não, George é muita pressão, tem que ser com o Louis, que é família real, mas não tem aquela pressão de ser herdeiro do trono. Já está tudo pensado.


Isabella Fortunato

Ela vai ser a próxima Megan.


Izabela Viegas

Não, estou brincando. Mas ela é muito tem muita personalidade, sabe? Ela gosta das coisas que ela gosta de fazer que eu acho que ela gosta de brincar de umas certas coisas então ela pede. Outro dia ela falou comigo e falou assim "mamãe" e eu ficava em cima né? Eu estou assim "ô Laura vamos eh quer ir lá pra sala com a mamãe", não. Sei o que ela olhou pra mim "mamãe eu quero ficar sozinha" quase morri.


Isabella Fortunato

Olha, olha o comentário da Silmara, falou "Exatamente. É isso mesmo, não podemos ser o mundo pra eles, apenas o Porto Seguro. Dói, mas é isso".


Izabela Viegas

Nosso papel é esse. Não é que ela queria ficar sozinha? falei "Hã? Como assim? Dois anos e meio?" Achei que ia demorar pra chegar nessa fase aí eu falei assim "Tá! Então eu vou lá pra sala!" Aí ela ficou lá sozinha uns dez minutos dela vendo um filme, depois veio sentou comigo eu falei "gente tem hora que eu também quero ficar sozinha né?" e eu fui fui ler algumas coisas assim porque quando aparecem essas situações meio que eu não estava preparada, né? Pra acontecer e eu não tenho pra quem perguntar. Aí eu tenho algumas fontes de informações assim que eu gosto, algumas pessoas que eu sigo, alguns médicos algumas pesquisas e tal que eu gosto.


E eu vi que é normal. É muito normal porque como a gente tem hora que a gente quer ficar sozinho também, eles também querem porque ela passa o dia ou na creche com mais um monte de criança ou dividindo o espaço dela comigo. Então teve uma hora que ela quis ficar sozinha ali do lado e está bom filha, fica sozinha.


Isabella Fortunato

É mesmo gente, é fantástico isso, fantástico, fantástico, como é que essas crianças estão desenvolvendo certas coisas tão cedo né? Por estarem sempre conectadas e assim não estou dizendo da parte ruim não estou dizendo, desenvolvendo mesmo questões diferentes do que eram as nossas questões quando a gente tinha dois anos e meio e três anos. Né? Eles provavelmente ela provavelmente viu isso ouviu isso né? Né? Nos desenhos e tal porque está tudo muito diferente né? E ela reproduziu, achei, achei fantástico, tá certo, tá certa Laura, tá certíssima.


Izabela Viegas

E eu acho engraçado que o mais importante é que ela assim, ela não simplesmente repetiu uma coisa que ela ouviu. Ela sentiu aquilo. Ela conseguiu identificar e é uma coisa que eu tenho muito cuidado é ensinar ela a identificar as emoções dela entende? A Laura não é um não é um um um querubim não, a Laura acha ruim,  ela já saca um fone de ouvido. A Laura tem os momentos dela que ela fica brava e ela fica chateada e ela tentava me bater. Principalmente no começo tentava bater.


Eu segurava a mão dela firme e falava "Não pode bater. Pode ficar chateada. Pode ficar frustrada". Aí minha mãe ficava assim comigo. Izabela você acha que ela está entendendo o que que você está falando? Eu falei "Não. Mas é porque eu tenho que repetir pra ela entender. Não é a primeira vez também não".


Ela tem as vontades dela também e o nosso papel de mãe é guiar. Nós temos que guiar e explicar porque que não e porque que sim não tem mais aquela aquela forma de educar aquela coisa "Não pode, não pode, ah por quê? Porque não pode". Não, não adianta. Não, não. Eu falava assim, gente, filho meu se faz uma birra no shopping, vai tomar uma palmada e ele volta pro lugar. E não vai. Não volta. Não volta.


Não adianta. Aí a gente pensa, aí cai uma ficha que é uma coisa assim óbvia. Se se se a criança está frustrada, se a criança está chateada, faz uma birra você dá um tapa nela adivinha o que que ela vai fazer quando você deixa ela chateada e frustrada.


Isabella Fortunato

Bate em alguém.


Izabela Viegas

é mas é lógico. Então ela vai reproduzir o "palmada bem dada resolvia". Nada. E por isso que eu acho que ser mãe aos quarenta você já tem mais paciência, você tem mais sabe? E você sabe que o que que é importante priorizar no comportamento, que que você vai falar até pro futuro porque gente é uma competição muito desculpa mas muito idiota. Numa entrevista de emprego não vão perguntar pro seu filho qual foi a primeira palavra que ele falou ou com qual idade ele começou a andar. Entendeu? Vão querer saber se ele sabe lidar com frustração. E os meninos não sabem lidar com frustração. As crianças não sabem lidar com frustração. O acesso está tão fácil. É tudo assim na hora que eles não sabem lidar com frustração. 


Então tem que pôr limites. Eu falo com a Laura assim. Ela vê tela (celular). Ela vê tela. Vê porque não existe isso de "Não meu filho não vê tela. Não vê telas". Sinto muito e vai ver a tela porque ela tem um iPad. Sinto muito. Desculpa eu te tirar do seu pedestal da ignorância mas vai ver telas. Porque você passa o dia na tela. Ele está te vendo ali o tempo todo. A minha filha vê telas pra conversar com as família e cabe a nós tomarmos conta do que que eles estão vendo. Cabe a nós tomarmos conta do que que eles estão vendo.


É e tipo tira um tempo. Educar a criança você tem que ter tempo, você tem que ter disponibilidade pra isso e é um pecado porque eu também trabalho fora, a Laura vai pra creche às oito da manhã e eu pego ela às seis da tarde. Ela passa o dia na creche. Portugal em matéria de creche é maravilhosa. Eu levanto a mão todo o céu e agradeço do dia todo dia por essa creche. Porque é muito bom. E é gratuito.


Isabella Fortunato

Pois é e isso a gente realmente tem que reconhecer em matéria de qualidade de vida que Portugal te permite, né?


Izabela Viegas

Permite. Permite. A questão de saúde e educação não tem do que reclamar. Não tem mesmo até mesmo a estrutura por exemplo. Igual eu estou falando eu trabalho fora pra eu ficar eu não sei como é que é aí no Brasil mas por exemplo se a Laura fica doente pra eu ficar com ela em casa a segurança social me paga cem por cento do meu salário os dias que eu fico em casa com ela, sabe? Então dá uma tranquilidade entre aspas. Você não tem uma vida de luxo. Né? Mas você não perde a dignidade também. Se ficar doente eu não vou ter que vender o rim.


Isabella Fortunato

É, você não tem aquela paranoia de você ser mandada embora porque eu tive que ficar em casa porque meu filho está está doente. Um tema que eu fico agora pensando, Iza, nas mães solo daqui do Brasil que não tem isso né? Não tem essa possibilidade tem que pagar a creche, tem que pagar alguém pra ficar com o filho.


Izabela Viegas

Se eu tivesse tido a Laura no Brasil, eu não não teria eu não sei se eu conseguiria eu não sei. Questão de dinheiro, questão de estrutura, emocional sabe? Não é de forma nenhuma criticando "Ai Portugal é melhor" não é isso. Mas a estrutura que eu tive aqui, o governo é socialista né? Certo ou errado bom ou ruim ele é voltado pra quem tem necessidade pra quem precisa eu parei de trabalhar aqui. A gravidez de risco é acima dos trinta e cinco anos. Você pode estar saudável, não está, mas acima dos trinta e cinco anos é gravidez de risco. Eu parei de trabalhar quando a Laura tinha, eu estava grávida de quatro meses. E já não trabalhava mais. Até ela nascer e depois esse período da gravidez de risco.


Isabella Fortunato

Mas você teve uma gravidez super tranquila, né?


Izabela Viegas

Tranquila, tranquilíssima, foi tranquila. Mas o próprio obstetra falou comigo assim, olha, você tem mais de trinta e cinco anos quer que eu dou a baixa a dispensa, né? Pra gravidez de risco. Eu falei, tá, pode dar. Até porque aí é o perrengue da maternidade solo. Até porque eu tinha que arrumar casa pra morar. Tinha que comprar tudo pra um bebê chegar. Tinha que estabilizar a minha vida. Tinha que organizar tudo. Como é que eu ia fazer isso? Ainda preocupada se eu ia ter dinheiro no final do mês ou não.


Como é que eu ia fazer isso tudo? Ir nas consultas e gravidez gente não é doença mas é uma é uma condição... cansa, né? Cansa e cada mulher reage duma forma, né? É muito é muito cansativo. E então esses dias foram dias assim, foi uma foi uma coisa que me ajudou muito porque no final do mês o meu salário estava lá certinho.


Isabella Fortunato

É. Conta o que que o governo faz com mães que amamentam em relação ao trabalho?


Izabela Viegas

Aqui no primeiro ano durante a amamentação obrigatoriamente a mãe não trabalha duas horas né? Entra uma hora mais tarde e sai uma hora mais cedo. E depois de um ano enquanto estiver amamentando ainda continua o "entra uma hora mais tarde e sai uma hora mais cedo". A gente só tem que levar pra o médico de família, né? No centro de saúde. Dá a confirmação de que a mãe ainda está a amamentar e tem que renovar isso de três em três meses. A Laura mama até hoje.


Isabella Fortunato

Gente isso realmente. Olha eu não gosto de Portugal, mas eu tenho que dizer que Portugal realmente é um país bem paternalista num sentido bom da coisa, um país que te dá ajuda de custo, que dá pra ter filho, te dá todo todo o aparato pra você ter filho e eu concordo plenamente com a Iza, seria muito diferente ela ter, ela ser mãe solo aqui no Brasil, seria completamente diferente. Mas vamos falar uma coisa, Iza, qual é a parte boa de ser mãe solo?


Izabela Viegas

Que que é bom?


Isabella Fortunato

É. Tem tem coisa boa? Só eu que resolvo tudo. É o lado bom e o lado ruim, né? Sou eu que trato de tudo.  Mas sou eu que resolvo tudo. Então a criação dela se der certo ou se der errado a culpa é toda minha. É mas se der certo também o mérito é todo seu.


Izabela Viegas

Exatamente. E é bom é bom porque assim quando você está só, eu fico pensando eu não não tive uma pessoa que tava comigo e me largou né? Ou então separamos. Eu nunca tive ninguém. Né? Eu nunca tive outro braço. Então pra mim sempre fui eu e eu não tive aquela quebra porque acho que deve ser muito mais difícil quando o casal separa. Né? Já estava ali aquela dinâmica de duas pessoas e de repente você está com uma dinâmica de uma pessoa só. Com a minha dinâmica sempre foi só eu até o meu apartamento, eu escolhi de forma que eu fosse cuidar da Laura sozinha. Então é pequeno, é de um quarto, porque se eu estiver na cozinha eu consigo ver ela lá dentro. É rápido pra limpar. Né? Pra não passar o tempo todo sem brincar com ela.


Tem espaço pra mim, tem espaço pra ela, mas assim, é dinâmico. Então a a grande vantagem de ser mãe solo pra mim é essa, é a gente conseguir fazer tudo do nosso jeito. Eu não preciso pôr nada em votação. Eu não preciso discutir a minha decisão, né? Me justificar com ninguém eu posso fazer o que eu acho que é certo e pronto e pro meu tipo de personalidade isso é ótimo, aquariano, então pro meu tipo de personalidade é muito bom, agora também não estou aqui fazendo propaganda de vamos privar as crianças duma figura paterna e criarmos a nossa imagem e semelhança. Não porque não é assim que funciona. Mas dadas às circunstâncias tentando tirar o melhor de uma situação que não é fácil. Eu acho que uma das coisas que facilita uma situação difícil é isso. Eu posso resolver e executar. Eu não preciso de outra pessoa pra dar o aval.


No caso da Laura principalmente nas coisas dinâmicas da vida né? As coisas do dia a dia. A Laura só tem o meu nome no registro. Então o passaporte dela só tem o meu nome. Eu não preciso sair atrás de ninguém pra pedir autorização pra viajar. Facilita muito a minha vida. Né? E eu sou da seguinte opinião que ninguém me obrigaria a ser mãe. Se eu não quisesse ser mãe não ia ter santo na Terra que me obrigasse a ser mãe. Eu também não obriguei ninguém a ser pai. Não vou obrigar ninguém a ser pai. Porque quando a gente faz as coisas por obrigação é porque a gente não faz como deve ser. E eu acho que prejudica mais do que a ajuda.


Então deixa comigo eu segurar um rojão como se diz e e vou. Então assim não precisar de pedir autorização não precisar ficar contando com um dinheiro que pode não vir. São muitas variantes que eu prefiro não ter. Não julgo quem vai atrás. Acho que está descoberto de razão. Tem todo o direito. Né? Mas pra minha realidade, pra minha situação eu prefiro contar com isso. Essas variáveis que pode dar muito certo mas também pode dar muito errado. E o muito errado é muito prejudicial.


Isabella Fortunato

É. E vem cá como é que é essa coisa de ser mãe solo em Portugal? O pessoal faz essa diferença? O pessoal ajuda, o pessoal tem empatia? Eles estranham?


Izabela Viegas

Eu acho que o que provoca mais preconceito é o conjunto. Não é só ser mãe solo, é ser brasileira, imigrante e mãe solo. Sabe? É o conjunto. Agora eu nunca tive nenhuma situação explícita. Nunca vi a Laura ser discriminada também por nenhuma razão. Aliás, já passamos por uma situação, mas não era nem por ser mãe solo, era por ser brasileira mesmo. Porque pronto já perguntaram pra gente, falaram que a Laura era portuguesa de segunda porque ela era filha de brasileiro nascida aqui, aí eu aí eu falei assim "não não ela não é não é portuguesa de segunda não ela é do mundo igual a mãe dela".


Tá, mas eu sei que ela vai passar por essas situações, né? Porque como eu disse, gente, existe tudo quanto lugar, todos os lados, mas cabe a mim ensinar ela como sair delas, né? E e escolher o que ouvir. Eu acho que o preconceito não vem muito por ser mãe solteira não porque principalmente ultimamente tem muita família monoparental. Muita, muita. Aumentou demais  Demais, muita. E o governo tem ajuda pra famílias monoparentais também que é outra vantagem. Então aumentou muito, muito mesmo. Os casais se separam. Eu falo que agora na idade da Laura é a época dos divórcios.


Porque aqui quando tem um casal tem o primeiro filho já está aos trancos e barrancos desde que o menino nasceu porque nunca é o que a gente espera. Tem gente que fica mais unido, tem gente que separa. E essa fase agora que é a fase de ensinar, de não sei o que causa muito atrito entre duas pessoas. Eu noto muito em conversas com outras mães. E eu só fico pensando assim comigo "Ah que bom eu ganho presente do dia do pai e do dia da mãe"


Isabella Fortunato

Maravilhosa.


Izabela Viegas

E a Laura também, a Laura também tá numa creche que prega muita diversidade assim então ela não ela já falou comigo "eu não tenho pai, eu tenho uma mãe".


Isabella Fortunato

e ficou por isso mesmo. Não pediu explicação.


Izabela Viegas

Ainda não, mas vai pedir, né?


Isabella Fortunato

Vai, vai, vai, em algum momento. Você já sabe o que que você vai fazer? Você vai esperar o momento?


Izabela Viegas

A gente tem que esperar eles abordarem, né? É sempre a melhor opção. Mas ela vai me abordar de uma forma com dois anos, que foi essa, vai me abordar de uma forma com quatro, vai me abordar de outra forma com oito, com dez, com dezesseis, a conversa vai mudando e eu procurei, procurei informação, né? Fui numa psicóloga infantil pra ver como é que eu devo lidar e tudo. Gente, é o que eu falo. Você virou mãe? Aos quarenta? Ótimo! Porque você já está com mais maturidade por causa disso. Você sabe que não é não é crime você ir numa psicóloga pedir ajuda pra saber como fazer o seu filho ser uma criança melhor.


Isabella Fortunato

Não, e principalmente você sabe que você tem que estudar pra poder saber lidar com determinadas situações. Porque eu acho que os nossos pais tiveram muito disso, eles evitavam do jeito que vinha. Né? Eles não corriam muito atrás disso. Eles não procuravam ajuda do jeito que a gente tem coragem de procurar né? E eu acho isso muito muito muito legal. E Iza, se despede aí da galera, bota patrão, bota a @mochilinha.pt de novo pro pessoal seguir, se despede da galera. Laura, se despede da galera, Laurinha.


Izabela Viegas

Tchau. Beijo, mandou um beijo aqui meio, meio tímido. Olha. Gente, muito obrigada. Se eu puder, pude ajudar alguém, já fiz o meu papel. Espera aí, filha. Deixa a mamãe terminar de falar, só um minutinho, está bem? Tá. Pronto. Sigam a gente lá no Mochilinha, nas nossas aventuras por Portugal, pelo mundo. E as mulheres de quarenta e gente, a vida começa aos quarenta, viu?


Isabella Fortunato

É uma grande verdade Iza. Sendo mãe, não sendo mãe, a vida começa aos quarenta. Gente, façam quarenta e venham fazer parte desse clube de mulher de quarenta, quarenta mais né? Obrigada Iza por ter vindo mesmo no feriado obrigada por tudo obrigada Rádio Ponto e Vírgula, obrigada meu patrão veio no feriado. Gente, um beijo pra vocês, sigam o @isa.mulherde40, estejam aqui toda quinta-feira, às duas horas da tarde, que a gente vai conversar sempre com mulheres maravilhosas e sempre. Beijo e bom feriado pra vocês.


Izabela Viegas

Tchau.


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