Sobre ser solteira aos 40
O que implica estar sozinha depois dos 40? A gente passa a vida procurando um príncipe encantado, sonhando em encontrar proteção nos braços de um grande amor, criar uma verdadeira sintonia com alguém que seja a sua metade da laranja. Aí você chega aos 40, separada, e nada daquilo que tinha encontrado nos filmes água com açúcar.
Meu filme preferido é, de longe, Dirty Dancing, aquele em que a família rica vai passar as férias em um resort nos anos 60 a Baby, a filhinha rica da família, se apaixona por um dançarino da equipe de entretenimento do hotel. Claro que eles, casal improvável, terminam juntos no filme. Mas uma coisa que eu - que nunca acreditei no amor - sempre me questionei é: como ficou aquele relacionamento depois do fim do filme? Como ficou a questão da grana? Como era pra sair pra jantar, viajar? Claramente o relacionamento não durou nada depois. Se tivesse uma parte 2 do filme, isso ficaria muito claro.
Bom, nem preciso dizer que, embora na minha última viagem tenha me apaixonado perdidamente pelo bailarino do entretenimento, a realidade deu logo de cara aquele tapão no amor, né? Nem preciso dizer que nos meus 40 o amor é algo tão distante que eu nem tenho essa pretensão.
Na verdade acho que não tenho paciência de me comprometer com alguém a essa altura do campeonato quando sei que posso dar conta de tudo sozinha. Que posso fazer absolutamente tudo o que quero sem ter que dar satisfação para ninguém, sem perguntar nada para ninguém, sem esperar decisões serem tomadas, sem ter que tomar decisões por dois, o que pesa demais.
Tudo pode ser definido a qualquer momento, de qualquer jeito, bem ao meu gosto.
Por outro lado, não há com quem compartilhar nossas vitórias, ainda bem que existem as redes sociais para isso. Não há com quem argumentar. Não há ninguém do seu lado quando acorda, nem quando vai dormir. Quando penso que no meu casamento não tinha nada disso, fico aliviada.
A solteirice me permitiu esse ano fazer a viagem dos meus sonhos sozinha, comemorar meus 40 anos sem festa nem nada. Só eu nesse mundão de meu deus, aproveitando as coisas boas da vida. Minhas fotos ficaram meio tronchas, preciso admitir, mas, mais uma vez, casada com o embuste com quem eu era casada, não seria diferente. Então…
As pessoas estranham uma mulher de 40 sozinha em um lugar paradisíaco, mas também gera curiosidade. As famílias com crianças gritando e correndo, que queriam curtir, mas não podiam, sentiam uma pontinha de inveja daquela minha paz. Assim como eu também sentia uma pontinha de inveja de ter companhia, alguém para trocar uma ideia. A gente nunca vai estar 100% satisfeito, não é?
Por exemplo, se aos 40 a mulher liga um lindo foda-se para tudo, para a opinião alheia, para o que pensam dela, por outro lado fica aquele pontinho de interrogação por não receber mais cantada na rua como aos 20. Aos 20 eu não podia sair. E nunca fui uma mulher linda, nem voluptuosa nem nada. Mas sempre voltava com uma cantada para casa. Aos 30 estava muito ocupada trabalhando para perceber a falta de uma cantada, mas aos 40, receber uma é um susto.
Ontem um taxista parou o trânsito para me pedir meu telefone. Gente, há quanto tempo isso não acontecia. Isso acontece muito com você aos 40? Comigo nunca. Até o tinder é um sacrifício para mim, o povo curte, mas não fala. Então esse de ontem foi um evento.
Na minha época a gente saía, ia para a balada, conhecia alguém e ficava. Agora tem o tinder. Eu sinceramente não sei usar direito, é estranho ficar alimentando algo online, até se encontrar e realmente se conhecer. Como selecionar? Como saber se vale a pena gastar perfume?
Nossos requisitos também mudaram, não é? Aos 40 estamos bem mais exigentes, pois as experiências nos moldaram, principalmente as experiências ruins. Então como saber? Como ter a certeza de que vale a pena? Jamais saberemos. É uma loteria.
O que não dá para pegar qualquer coisa por causa da falta de opção.
A vida talvez seja um pouco mais complicada sozinha, mas, por outro lado, a liberdade de tomada de decisão não tem preço. Como mencionei antes fiz uma viagem para as Maldivas sozinha, um lugar paradisíaco, mas destino de muitos casais em lua de mel e famílias. Foi muito estranho ser uma mulher (de 40) sozinha lá. Mas a sensação de liberdade que uma viagem de descanso nos traz não tem preço. Sem contar que eu era a atração para o staff que nunca podem brincar nem ter muito contato com os clientes que são casais e família, comigo surgiram várias amizades e até algo a mais.
Não vou mentir que me apaixonei perdidamente por uma pessoa do entretenimento, um dançarino egípcio maravilhoso, lindo, corpo perfeito, e eu nem lembrava mais como era se apaixonar perdidamente por alguns poucos dias e por um amor impossível. É como se sentir adolescente de novo. Que sensação maravilhosa!
Ele é novinho, tem 33 anos, talvez seja por isso que minhas investidas no tinder não dão certo, pois eu estou tentando me manter na faixa dos 40, mas na verdade, minha faixa etária ideal seja entre 30 e 40… Até porque eu, graças aos deuses do Olimpo, não demonstro a idade que tenho, portanto…
Essa semana depois da viagem usei-a para me dedicar a mim mesma. Foi uma semana de SPA: fiz nano pigmentação nas sobrancelhas, peeling na pele (estou até descascando!), drenagem linfática, limpeza nos dentes e harmonização facial. Resolvi dedicar esse mês a mim. Não pôde ser o mês do meu aniversário, mas foi esse. O importante é ter me colocado finalmente ao centro da minha vida.
Lembrei também que minha empresa de Tradução faz 10 anos agora em agosto, então, nada mais justo que comemorar. Motivos não faltam.
Bom, esse foi nosso diário de bordo de hoje, celebrando a mulher de 40 sozinha, solteira, com ou sem filhos e que está se dedicando a si, ao seu bem-estar, se colocando no centro do seu mundo. Que todas possamos fazer isso: nos colocar nas nossas agendas em primeiro lugar, como fazemos com os outros e com o nosso trabalho, menos com a gente. Mas nós devemos e merecemos. Portanto, faça, você vai ver como vale a pena.